
Desde 27 Março de 1999 que o TEP foi transferido para o concelho de Vila Nova de Gaia, sem o apoio do Ministério da Cultura com uma equipa de profissionais desde 1957.
Ver antecedentes históricos e actualidade. Conta actualmente com o patrocínio da Câmara Municipal de VNG, de vários mecenas privados e apoio e promoção da empresa MUNICIPAL GAIANIMA.
Estamos em 2008. Época posso dizer pouco motivante para os profissionais das artes e do espectáculo, assim como profissionais da cultura em geral. Talvez por isso, e nunca por outra razão (pois então nem sequer teria mencionado esta tragédia) me sinto obrigada a aqui anunciar o meu profundo pesar pelos mesmos profissionais. Sem me alongar e não tornando este texto por demais doloroso, passo a explicar.
Ontem assisti ao novo espectáculo do TEP, Eclipse Total de Christopher Hampton, que aborda o relacionamento entre dois dos maiores poetas da França do século XIX, Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, símbolos de uma nova arte poética.
Muito não se podia esperar da obra de Hampton que já tem sido sucesso em vários países e com adaptação para cinema, mas ninguém, nem mesmo eu faria prever tal feito.
A peça está construída em vários frames que se separam entre si por momentos ao piano, parecendo tirada directamente de dois dos vários princípios do Kitsch : o da Percepção Sinestésica e o Princípio de Mediocridade.
A cenografia é inqualificável. Um alheamento voluntário dos objectos lembra um cenógrafo tão perdido como o abismo deste eclipse. Um piano na boca de cena gasta todo o palco (talvez também os subsídios) tentando esconder toda a pobreza que se viria a deslumbrar dolorosamente durante as quase duas horas de aniquilação teatral.
O acompanhamento musical de André Ramos disfarça ineficazmente a mudança de cenário que acontece quando o pano cai, para distinguir os vários momentos da peça. Outra vez inqualificável, quando falamos de um teatro profissional que pode até não receber subsídios do Ministério da Cultura, mas tem mais apoios que algumas companhias de teatro espalhadas pelo distrito, que vivem e sobrevivem à custa do árduo trabalho e da profunda convicção de que teatro é um caso muito sério.
Os actores, os jovens actores…perdão…corrijo: os jovens pseudo-actores, pseudo-profissionais perdem em qualidade o tempo que despenderam a decorar o texto (facto único que merece algum, pouco, reconhecimento). Texto, texto, texto, texto…Fábio Alves e Pedro Lamas tal como dois pré-adolescentes decoraram o texto como dois iniciados na arte sexual…acumularam palavras como quem acumula esperma para depois as soltarem num orgasmo pueril para um público boçal que ria a qualquer desgraça deste nosso iluminado Rimbaud que certamente dá voltas no túmulo e encomenda a alma ao diabo de ver tal diarreia “profissional”.
O que parecia uma característica trabalhada para a personagem por Fábio Alves, revelou-se um deficiência do próprio actor (aluno da ESMAE) a quem falta muito exercício de colocação de voz e muito muito muito trabalho de actor, talvez quem sabe numa outra vida, possamos adivinhar um possível projecto de actor.
Pedro Lamas numa inglória tentativa de chocar, defeito de encenação e não do actor, ora se cobria nos lençóis para não mostrar os genitais ora ganhava coragem e lá deixava descair o pano…ganhando velocidade e parando deixando a plateia extasiada por este arrojo de modernidade. Será caso para dizer : Viva a nudez fácil e patética no teatro!! Quando se quer dar ao povo o que é do povo tira-se a roupa e mostra-se a pila (ou ameaça) e vão todos para casa a pensar no herói desnudo…nunca actor mas herói.
Pedro Lamas não tem defeito de actor, pois não estamos diante de um actor. Tem defeitos de timidez corporal das pessoas normais. Como não sabe onde colocar as mãos, coloca-as por um lado qualquer assemelhando-se a uma mistura esotérica de homem elefante, corcunda de notre-dame e jovem sofrendo de paralisia cerebral, sem qualquer desprimor para estes. Como era hilariante descobrir-lhe a mãozita colada na barriga, com os deditos apontando para os pés, o cabelo a sacudir de cada vez que berrava uma frase mais intensa e a cabecita tombada para um dos lados quando adquiria um tom pensativo.
O resto do elenco varia entre o mórbido e um limbo de quem não sabe muito bem o que para ali anda a fazer ou de que se trata o texto, ou quem são aqueles dois jovens que se beijam…pensarão decerto: juventude. Juventude e poetas.
Mas nem tudo é mau…desta parafernália inconcebível de mente-captos que vai desde o encenador aos actores, correndo todos os quadrantes desta triste apresentação, salva-se a irmã de Rimbaud Isabelle. Desconheço o nome da actriz (recusei-me a despender de 1 euro para a aquisição do programa) mas a única que se salva no meio de todo aquele zoológico. Postura exemplar, colocação de voz acertada, interpretação coerente e sábia.
Lamento assim, desta forma, mostrando todo o meu profundo pesar pelas companhias do distrito de quem conheço algum trabalho…trabalho a sério. Que vivem mal, por vezes não conseguem sobreviver num panorama tão árido para a cena teatral quando andam estes fantoches de cabeceira a fazer de conta que são profissionais, a viver à custa de subsídios para nos presentearem com verdadeiro esterco. E se já não chegasse a merda feita ainda tem promoção da GAIANIMA. Deus dá nozes a quem não tem dentes.
Para quem não sabe o circo ainda vai estar montado até 25 de Maio, de quarta-feira a sábado, às 21h45, e ao domingo, às 16h00. Não sei se aconselhe a fugir, a comprar 10 bilhetes e queimá-los numa cerimónia de magia negra ou então oferece-los para um arquétipo do que não se deve fazer em teatro. Depois passem pelas companhias que aqui vos deixo, algumas em risco de fechar, com produções independentes algumas com trabalho demonstrado.
Ver artigo obrigatoriamente ler a reportagem
aqui.
Quanto ao TEP e ao seu eclipse total declaro que o título foi certamente o mais acertado…vivem-se dias de total eclipse no Teatro Experimental do Porto daquele que foi na década de oitenta um dos percursores da actividade teatral do Porto.
Algumas companhiasAs Boas Raparigas vão para o Céu, as Más para Todo o Lado
Teatro Plástico
Teatro Bruto
Teatro Só (já não existe)
MetaMortemFase (já não existem)
Mau Artista
Teatro do frio
Teatro de Marionetas do Porto
Teatro Tapa Furos
Teatro Universitário do Porto
Visões Úteis
Acaro-Associação Cultural de Artes Organizadas
Assédio-Associação de Ideias Obscuras
Teatro da Palmilha DEntada
Teatro do Ferro
Últimos-Companhia de Teatro Itenerante
Teatro do bolhão
Sintam-se livres para mencionarem as que faltam.