segunda-feira, julho 31, 2006

Amar

Há quem ame acima de tudo, há quem ame a vida, os gestos, as pessoas.
Há quem só te ame a ti.


Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-se ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca, Charneca em Flor

...do que nos há-de matar...

Para quem procura um sentido para a vida...


Do sentimento trágico da vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia

terça-feira, julho 25, 2006

Na feira das vaidades passei indiferente ao capricho do passado...A expressão de um tempo outrora habituado ás vicissitudes do correr da tinta, habituado às não metáforas.
Vou acender uma vela até me queimar os olhos...Indiferença!Quanta indiferença faz a diferença de um gesto comum?

dimensaooculta

quarta-feira, julho 19, 2006

Em homenagem aos que continuam à procura de um rumo e que querem fazer da vida algo de especial, fica a revolta dos dias que passam numa simples frase de alguém.

"O lento rolo compressor do dia-a-dia".

A cru















Pelos dias em que o mundo é só crueldade,
em que o calor das vozes de sempre arrefece o coração
e que o vento me desvia para o único lugar garantido. A solidão.

"Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...

Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,

Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!
"

(Mário de Sá Carneiro, Caranquejola)

quinta-feira, julho 13, 2006

Italianos à solta


















Com alguns dias de atraso, aqui fica a minha homenagem aos campione dal mondo. Porque o futebol, à semelhança das imagens tremidas, tem esta magia de nos dar o mundo. O mundo em tons de euforia, suor, pontapés e caneladas, mas também a mão dos outros, a proximidade que nos foge todos os dias e um sorriso que aquece. O mundo como ele é...mas que vai sendo esquecido.

Foi preciso a Itália ganhar o mundial para o nosso fidele discepolo voltar a dar o ar da sua graça. Benvenuto Erasmo. Viva o Grosso e os outros Azzurri!
P.S. Às vezes são só precisos 11 para voltarmos a ver gestos de honestidade. Se, umas horas antes, o Zidane tinha saído com a cabeça pesada, nos festejos em Roma, com milhões de italianos à solta, alguém devolveu ao Erasmo o telemóvel que tinha ficado por terra. Gestos curtos mas que valeram a expulsão do "argelino do costume".

Foi bonito mas os aliados, apesar do cinzento, ficavam melhor na fotografia do que o circo massimo.

sexta-feira, julho 07, 2006

À Deriva




















A notícia chegou por correio.
Uma carta amassada, um selo de outras paragens. Uma porta aberta ou um ponto de fuga? As linhas de longe denotam cansaço. Escrita atribulada, cantos do papel enrolados. Para lá das palavras de circunstância, a carta transporta rasgos de vida, momentos condensados em breves linhas.

O vapor esgota-se e a esferográfica aponta. Vive-se pelos sentimentos, não pelos registos simbólicos. À passagem o mundo é muito mais que a imagem de fundo, é tudo o que está de permeio. O coração que sufoca, os gritos que invadem e a água que salpica.

O areal. De chegada é o repouso em jeito de regresso a casa. Para quem não tem morada fixa, a terra fina é o aconchego possível num mundo de subterfúgios demasiado duros.

Beijo