terça-feira, maio 13, 2008

Porque hoje não é domingo



A Bíblia faz dele o primeiro dia da semana, as normalizações estandardizadas apontam-no como o último. Paradoxos de circunstância que não alteram nada. Os significados, o sentir que rodeia as coisas não se altera por convenção ou conveniência histórica. As coisas constroem-se por nós. Fechados no quarto, imersos no fumo de um qualquer bar em horas tardias ou presos a recordações que nunca nos abandonam traçamos configurações que podem aquecer, mas não explicam nada.

São raro os domingos em que me distendo para além do comprimento do sofá. Haverão horas mais aborrecidas, mas a preguiça tem a vantagem de nos levar a passear por muito daquilo que já esteve esquecido. Lá fora movem-se na fila para o cinema, enrolam os corpos na brisa que varre a costa, há a Ângela que beijou, pela última vez, o primo André. Houve um qualquer abraço que se perdeu. Vêem-se os miúdos no carrossel, os velhos em debandada e todos aqueles que ficam.

Eu permaneço em casa, por receio do domingo e da falta de ar. Arrepiam-me os olhares de desalento. Desapontam-me os olhares frios e distantes que deveriam ser tudo menos inóspitos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mariana, é óptimo e deliciante apreciar o teu jogo de palavras. Quando publicas as tuas letras, publicas contigo uma vontade enorme de dizer o essencial... é agradável n ter acesso a mais, fazes de ti, e constrois em ti um ser especial. Tens na ponta da língua um carácter instável, e tens no teu coração uma vontade enorme de veres um mundo melhor. Nos teus textos o teu mundo é imenso, e é belo o ser que nele te identifica. beijo *