quarta-feira, maio 23, 2007

19.55


Começou a chover. Passa das sete e meia num dia morno. Caloroso quando me abraçaste com o teu gesto dúbio, cheio de incertezas.

Muitos são os dias em que penso em mim, em jeito de exercício narcisístico. Penso em mim, nos 24 anos que já passaram, nos outros a chegar, mas foi semana passada, no pendular entre Lisboa e Porto, que percebi que a emoção que me falta advém daquilo que nunca projectei. Entre Fátima e Aveiro compreendi que quero a vida sem regras, sem horários, se possível sem os outros. Sinto-me bem sentada sozinha num comboio, o ideal era um destino desconhecido. O ideal era o deserto, o rasto de desolação e nada mais. Queria ver o mundo do mesmo modo que continuo a gostar de te ver. Já te desejei assim, como agora grito pelo mundo. Ferozmente.

terça-feira, maio 15, 2007

Porque vale a pena relembrar

"Quero fazer o elogio do amor puro.

Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi casais tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia (...).

Já ninguém se apaixona?
Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.
(...) Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.
A vida que se lixe.

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber.(...) Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

ELOGIO AO AMOR - de Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, maio 14, 2007

Doze pedaços de lua somente o trabalho do actor sobre o actor.
Lembrando o poema de Herberto Hélder o actor põe e tira os cornos de veado. Ninguém ama tão corporalmente como ama o actor.
Uma peça sobre amor. Amor em toda a sua latitude e longitude.
Um trabalho a descoberto onde a rede são as mãos, os braços, as pernas, a cara, a voz , e tudo o que de mais serve a arte suprema do Teatro.
Se saírem de lá a sorrir, simplesmente a sorrir, sentimos que a missão está cumprida.

Encenação de PedroEstorninho com o S.O.T.A.O.

quinta-feira, maio 10, 2007

segunda-feira, maio 07, 2007

Reflexos


Pelos dias de sol, pelas pessoas que me ocupam o coração e pela necessidade de viver.

Teatradas de regresso!

«Boca de Fogo», de Manuel Poppe, com encenação de Júnior Sampaio, é um espectáculo de teatro centrado nas inquietações do indivíduo num mundo globalizado. Acção de formação resultante do Curso Intensivo à Prática Teatral organizado pela Seiva Trupe e pelo ENTREtanto Teatro, a peça estará em cena entre 5 de Maio e 3 de Junho. Este espectáculo põe a essência da vida lado a lado com a "barbárie humana": "Sendo o corpo o objecto de comunicação, «Boca de Fogo» narra através de sons, ruídos, rumores… palavras, palavras-soltas, pequenas frases, as inquietações do indivíduo no mundo da globalidade. Uma viagem rápida e alucinante pela respiração, pelo amor, pelo sexo, pela família, pela arte, pela violência, pelo materialismo… numa passagem/ reciclagem pela experimentação da vida". Apresentando-se como "um jogo de comunicação com o público, uma inquirição à existência, um convite à poesia dos sentidos", tem no elenco Ana Nabais, Ângelo Silva, Bruno Leite, Carlos Gonçalves, Carlos Nabais, Cláudia Sousa, Daniela Gonçalves, Emanuel Sousa, Hugo Silva, Ivone Oliveira, Jaime Pacheco, Jorge Aguiar, Jorge Fonseca, Mafalda Gomes, Marco Ferraz, Mariana Santos, Mário Fontoura, Nanci Sousa, Patrícia Aguiar, Rita Vieira, Rui Gomes, Sara Fernandes, Susana Vieira e Tânia Reis (alunos do curso de teatro).

Estas palavras servem de convite. Gostava de contar com a vossa presença do lado de lá.

Aqui ficam os dias em que estamos em cena. Quanto aos bilhetes para o Teatro do Campo Alegre podem ligar para lá a marcar e dizer que conhecem uma pessoa do elenco que fica por três euros. Para o Centro Cultural de Campo, em Valongo, basta falar comigo ou então comprar directamente no local, pelos mesmos três euros.


Teatro do Campo Alegre - 10 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 11 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 12 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 13 de Maio, 16h
Teatro do Campo Alegre - 15 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 16 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 17 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 18 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 19 de Maio, 22h
Teatro do Campo Alegre - 20 de Maio, 16h
Centro Cultural de Campo, Valongo - 28 de Maio, 21h30
Centro Cultural de Campo, Valongo - 29 de Maio, 21h30
Centro Cultural de Campo, Valongo - 30 de Maio, 21h30
Centro Cultural de Campo, Valongo - 31 de Maio, 21h30
Centro Cultural de Campo, Valongo - 1 de Junho, 21h30
Centro Cultural de Campo, Valongo - 2 de Junho, 21h30
Centro Cultural de Campo, Valongo - 3 de Junho, 21h30

quarta-feira, maio 02, 2007
















"Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos"
Eugénio de Andrade

As férias na aldeia trazem sempre um sabor amargo no coração; fazem acreditar que o mundo é como aquele pedaço de céu, plantado por mãos humildes. Como se por momentos o mundo fosse um lugar amável para se poder viver; sem medos, sem sombra, sem quedas. Apenas o silêncio!Somente o silêncio, tão cheio de amor de todas as gentes.