sábado, abril 26, 2008

Procurei um poema, dentro e fora de mim. Nada!
É sábado e o verão sente-se na pele.
Não me apetece o Verão!

sexta-feira, abril 25, 2008


Deliro!!!Não digo nada que valha a pena,
não me encontro nos lugares,
invento mil histórias para esquecer e mil histórias perco
porque me lembro sempre de uma sala pequena
que foi sempre do tamanho do meu desejo.
As vozes não se calam, o coração bate todos os segundos
a uma velocidade patológia e tenho a certeza que assim
não vou durar muito mais tempo,
porque nunca conseguirei parar.
É sempre esse vento...esse vento
fora e dentro de mim, que não me deixa dormir,
que não me dá paz e sempre uma imagem
de um pássaro que de tão pequeno
me destruiu todos os sonhos e a força de viver.
O mundo que não é meu nesta madrugada,
neste dia de trabalho,
este corpo que me conduz cegamente aos sítios
e uma desrealização mata-me numa afasia.
Há dias como todos os dias que para mim nada é de mim
e nada será para mim,
nem as mãos que escrevem!!
Choro por dentro lágrimas de chuva ácida.
Cedo irei morrer.

Pintura de Vincent Van Gogh

terça-feira, abril 22, 2008

Em 25 de Abril de 1974 o Movimento das Forças Armadas (MFA) derrubou o regime de ditadura que durante 48 anos oprimiu o Povo Português. Nessa madrugada do dia inicial, inteiro e limpo (como poetizou Sophia de Mello Breyner) os militares de Abril foram claros nas suas promessas: terminara a repressão, regressara a Liberdade, vinha aí o fim da guerra e do colonialismo, vinha aí a democracia.
Com tudo isso, a Revolução dos Cravos pôs fim ao isolacionismo a que Portugal estava condenado há já vários anos e ajudou ao nascimento de novos países independentes. Constituindo-se o movimento pioneiro de enormes transformações democráticas em todo o mundo e demonstrando que as Forças Armadas não estão condenadas a ser um instrumento de opressão, podendo, pelo contrário, ser um elemento libertador dos povos.
Democratizar, Descolonizar e Desenvolver foi o lema que então fez regressar Portugal ao fórum das nações livres e amantes da paz.
Ao cumprir todas as suas promessas, os capitães de Abril transformaram o seu acto libertador numa acção única na História da Humanidade. Disso se orgulham, nisso se revêem. Porque se não pode apagar a memória, porque importa ter presente a razão de ser do 25 de Abril, a A25A, assumindo-se como herdeira dos que tudo arriscaram para a libertação dos seus concidadãos, convida-o a conhecer a História desses acontecimentos.

Vasco Lourenço


Para lembrar que morreram pessoas na guerra colonial


Para lembrar

25 de Abril sempre fascismo nunca mais


Padre perto do céu em mil balões

Não sei porque mas hoje fartei-me de rir ao ouvir o telejornal. Hoje mais do que nos outros dias em que oiço o telejornal.
A imagem do padre que despareceu pendurado em mil balões é suficiente para que a mente faça trinta mil caminhos cómicos e me faça desabar rebolando no chão de tanto rir.
Talvez possamos incentivar viagens de balão a alguns governantes.
Lololol. Isto de facto é mesmo muito engraçado.

Fotografia e noticia aqui

segunda-feira, abril 21, 2008



Eram sete e meia.
O mais tarde que podias entrar era até às oito
e depois das oito tornava-se reparado.
Havia ordem no mundo
e meia-hora para nós,
meia-hora que não foi como queríamos
meia-hora em que cada um de nós nos prejudicava
habituados que estávamos a não nos termos visto nunca.
Levámos meia-hora que afinal só começou depois de terminada
ao despedirmo-nos até à vista.
E até tornar a ver-te
eu não me senti, nem a fome, nem a sede
nem outra vontade que tu,
fiz como os poetas
que apagam a realidade
para lhe pôr outra melhor por cima.

(inédito)
Almada Negreiros

Fotografia de Elipa on DeviantArt
A ouvir black mountain-In the future (Night Walks)

quinta-feira, abril 17, 2008

Até à capital

Viajo a Sul brincando ser forte, brincando às viagens, às virgens do Sol sem dono. Dentro do comboio vou vestir um manto de palavras insignificantes inventando mil histórias que nunca irei contar, rasgando uma a uma as folhas gastas do dia.
Alguém dirá: Já tem os olhos molhados.
Eu vou rir porque cá dentro já nem a dignidade se compõe perante uma lágrima.
Vou tranquilizar os outros da minha morte dizendo que foi fatalidade, vou caminhar até mim dentro de um poema e vou poder parar de sonhar.
Tudo parece adquirir a forma
de catástrofe quando
atrás de mim se fecha
o silêncio do teu corpo.

quarta-feira, abril 16, 2008

Sobre o lado esquerdo


De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem -se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim,deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo,esmagar o coração."
de Sobre o Lado Esquerdo

Carlos de Oliveira
Fotografia de Kibicki on DeviantArt

Pé no Passos Manuel

Os Pé na Terra vão lançar o primeiro álbum esta sexta no Passos Manuel, no Porto. Sons cruzados pela presença especial de uma menina de voz doce e olhos azuis, é suficiente para aparecer?

Tragam a família e o corpo de bombeiros da freguesia!



Acredito em pouca coisa.
Quanto àquilo em que não acredito eleva-se a uma vasta lista, dispersa por itens, uns relevantes, outros fundamentalmente irrelevantes, muitos só fúteis. Quando chove lembro-me sempre de coisas simples. A volatilidade de uns quantos pingos perdidos é subestimada. Pelo brilho que deixa no asfalto, pela estranha nostalgia que permanece no ar, pela vivacidade da pele salpicada. É a simplicidade de saber que jornal não se quer ler, do que já foi nosso e não volta a ser.

Perdem-se muitas coisas simples. Talvez pela aparente facilidade da conquista. Ironia ou simples crueza do destino há muitos sorrisos que ficam para trás só porque deixaram de nos fazer sorrir, há lembranças que se desvanecem apenas porque o presente se desfez delas. É tudo simples, demasiado simples para nos lembrarmos disso todos os dias. No entanto, a simplicidade continua a aquecer-me do frio que sinto. Pelas histórias inventadas que te contei, pelas respostas trocadas, por teres adormecido ao meu lado, com o teu cabelo suave, a contar-me das meninas que correm atrás dos meninos, da professora que não te deixou ir jogar futebol. De repente tudo volta a ser simples, como, provavelmente, nunca deixou de ser.

Quero voltar a sucumbir ao campo transformado em cenário de batalha e aos outros dias em que inventámos uma floresta mágica. Não há complexidade na vontade, só a simplicidade de querer ser feliz.

Fotografia: kiss the girl, by *lamo on deviantART

domingo, abril 13, 2008

4:48 Psicose

Sarah Kane nasceu em Essex, Inglaterra, no dia 3 de Fevereiro de 1971. Estudou teatro na Universidade de Bristol especializando-se em Artes na Universidade de Birmingham.
Sarah fez uso do pseudônimo Marie Kelvedon para escrever Crave (Falta) criando uma pequena biografia para o seu alter ego. Tal medida foi tomada como forma de fugir do furor dos críticos que haviam reagido de forma truculenta ao escreverem sobre Blasted, caracterizando-a como “repugnante e obscena”.A obra de Sarah Kane caracteriza-se pela profundidade psicológica dos personagens e pelas imagens agressivas e chocantes.
Porém, a depressão fez com que a dramaturga fosse internada por duas vezes em hospitais psiquiátricos. Nesse período extremamente conturbado ela escreve 4.48 Psychosis (Psicose 4:48), a sua última e mais radical peça. Numa narrativa densa, fragmentada, não-linear 4.48 evidencia uma mente conturbada, depressiva e esquizofrenia à beira da loucura. 4:48 seria a hora em que a maioria dos suicídios acontecem. Esse texto só é encenado após a sua morte no Royal Court Theatre em 23 de Junho de 2000 sob a direção de James MacDonalds (o mesmo que produziu Blasted e dirigiu Cleansed).A depressão faz com que Sarah Kane tente suicídio sem sucesso com pílulas para dormir, mas em 20 de fevereiro de 1999 a escritora inglesa enforca-se no quarto de banho do "London’s King’s College Hospital" aos 28 anos.Hoje, Sarah é considerada a maior dramaturga do final do século XX na Inglaterra.

"Ás vezes viro-me e cheiro o teu cheiro e não consigo continuar não consigo continuar foda-se sem exprimir esta merda física horrível merda dolorosa saudade que tenho de ti. Não posso acreditar que sinta isto por ti e tu não sintas nada. Não sentes nada?
Não sentes nada?

E saio ás seis da manhã e começo à procura de ti.
Se sonhei com uma rua ou um bar ou uma estação vou lá. E espero por ti.
Sabes, acho que estou a ser manipulada mesmo.

Na minha vida nunca tive problemas em dar às pessoas aquilo que elas queriam. Mas nunca ninguém fez isso por mim. Ninguém me toca, ninguém se próxima de mim. Mas agora tocaste-me não sei onde tão fundo foda-se não posso acreditar não posso ser isso para ti. Porque não te consigo encontrar.

Como é que ela é?
Como é que vou reconhecê-la quando a vir?
Ela vai morrer, ela vai morrer, ela só vai morrer foda-se.

Achas que é possível alguém nascer no corpo errado?
Achas que é possível alguém nascer na era errada?

Vai-te foder. Vai-te foder. Vai-te foder por me rejeitares, por nunca estares, vai-te foder por me fazeres sentir uma merda, vai-te foder por me fazeres sangrar amor e vida foda-se (…) mas mais do que tudo, vai-te foder Deus por me fazeres amar uma pessoa que não existe, VAI-TE FODER, VAI-TE FODER, VAI-TE FODER."

"4:48 Psicose" de Sarah Kane
As últimas notas sobre dor, angústia mental, caústicos relatos do uso terapêutico de drogas escritos por Sarah Kane, vão estar em cena no ESTÚDIO ZERO.
10 de Abril - 24 de Abril1 de Maio-18 de Maio
Terça a Domingo às 21h45
Rua do Heroísmo nº 86 (metro do Heroísmo)
Informações e reservas-22 5373265)
estudio0.blogspot.com

sábado, abril 12, 2008



Que dirias se junto a ti me sentasse

e te pedisse para me amares

podendo amanhã não existirmos

um no outro?

Conhecerias-me no meio da multidão

se nunca nos tivessemos encontrado?

Por baixo da pele durante a noite nasce uma casca grossa, do frio das paredas e da solidão das multidões. Em rumores calados percorro as cidades, por demais cansadas, por demais estocadas pela vida...sempre por demais sofridas. Morremos cedo...uma morte sem choro. Sempre por demais sofrida, e as cidades não são mais do que espaço que delas ocupamos quando queremos morrer sozinhos.

Que dirias tu? Que dirias se um dia eu fosse uma cidade diferente?

Fotografia de bloodonthemoon5.deviantart.com

A ouvir Sérgio godinho "Que há-de ser de nós"

quarta-feira, abril 09, 2008

Bengaleiro ou horacias


Físico o tractor quente arremessou

Contra as colheitas de ouro o breu de corvos

Trazendo a noite em ondas de onde andou

De foice afoita, a luz sugando a sorvos.

Modorrento, o vapor da chaminé,

Máquina de fazer nuvens, levando

Ondinas ao empíreo mar, rapé

Da paz entre titãs que ordenhando

Alheias colinas se houvessem mais

Desavindo. Van Gogh ou Fabergé:

Ovos de palha, gemas siderais

Chocados em estrelado canapé.

Entrar nesta pintura eu queria

Se à entrada não pedissem a poesia.


(in Daniel Jonas, Sonótono, Cotovia, 2007)

terça-feira, abril 08, 2008

Narrativas (entre)cruzadas




Manuel, 4/Março de 2008
20h11

Devias acreditar no que nunca te ocorreu ainda perceber, dizia eu para mim, e dizia tal coisa para te fazer acreditar que era de mim que, tu, um dia, pudesses ouvir tal dizer. E, sim, por isso memorizava, tocava a campainha do cérebro e com o punho tacteava na porta da memória, e até ficava especado à espera, pois queria tanto desejar tanta coisa que ainda não sabia como o fazer. Se pudesse dizer que te conhecia como me conheço, não haveria sequer um segredo que pudesses de mim não perceber, e imaginei então, em ti, um ser especial que, em circunstancia alguma, pudesse existir esse dia em que deixasses de perguntar: O que é que estás para aí a dizer? E foi assim que hoje acordei, a pensar em ti. Ao levantar-me daqui, vi o vasto mundo a contar ao tempo como já se apercebeu de que, num dia a cara metade desse mesmo tempo é meditada no escuro. Chamaram-lhe o sol e a lua, mas eu não percebi a ideia. Era ainda criança quando me vi diferente de tanto do que cá fora se mostra. Ainda não cresci, sabias? Por isso é que devo acreditar no que nunca me ocorreu ainda perceber. Sonhava alto estas frases, mas tinha medo de as soltar. Seriam elas palavras de uma criança para tanta desta gente que, corre à procura de alcançar um qualquer objectivo num sei lá que prazo. É que sei lá eu como crescer? Mas sabia eu recordar-te o que tinha bem fechado na caixinha da memória, sabia, sim, cantar-te devagarinho esta história que tinha para ti destinada...


Mariana, 8/Abril de 2008 19h21

Há histórias que se guardam em segredo, outras em que o pulsar da vontade é tudo o que há para contar. Quando o desejo ocupa o papel principal, o tempo tem esse estranho hábito de morrer preso ao teu toque. O dia está cinzento e a minha história prende-se aqui, num espaço que já foi nosso.

Há dias de Primavera assim. Fugidios e sem réstia de esperança. Não acredito em narrativas entrecruzadas, só numa espécie de encontro. Reencontro-me agora com uma primeira viagem, dispersa em quilómetros e em palavras soltas. As curvas adormeceram, o rio ficou para trás, o teu toque continua a aquecer-me.

Vejo gente mas sempre que estou perdida lembro-me de ti.

Num olhar mais desatento...as nuvens. Cerro o olhar e continuo a ouvir o sotaque francês da mesa ao lado. Há dias em que gostava de acreditar na magia, nas últimas manhãs sinto só uma estranha agonia. Culpa da Primavera, dos outros ou solitariamente minha...
Agora, com o dia dissipado, olho para as mãos e penso que, por vezes, não é assim tão complicado passar verniz colorido pelos órgãos internos. O colorido é coisa que passa, mas enquanto dura é única e visceralmente nosso.

sábado, abril 05, 2008

























"Se as crianças me perguntarem o que quero
respondo quero morrer.
Como a silila de Cumas se as crianças
me perguntarem o que estás aí a fazer
baloiçando nessa garrafa suspensa
respondo quero morrer.
Nesta garrafa suspensa baloiçando no ar
desgrenhado, com o peito arfante e o coração
a rebentar de fúria selvagem
se as crianças me perguntarem
o que estás aí a fazer, o que quero
respondo quero morrer.

Daniel Jonas em "Os fantasmas inquilinos"
Fotografia de Martin Stranka




terça-feira, abril 01, 2008

Jaz a manhã de prata
na estrada de asfalto.
Por cima da música, por cima do barulho dos
carros que passam apressados,
o som do bater do coração...
Precipito-me na ponte por dentro
da cidade de nevoeiro,
manhã de prata.
Manhã.
Saio todos os dias de tua casa
e todos os dias é para lá que quero voltar,
imposta num duro silêncio
que não aceito.


fotografia de autor desconhecido