Procurei um poema, dentro e fora de mim. Nada!É sábado e o verão sente-se na pele.
Não me apetece o Verão!
Por entre a tradição do azulejo português e da montra da decoração surge a defesa. Entre a nossa porta e a rua fica o aviso. É uma vida que se esconde por trás das grades, longe do mundo. Cuidadinho!Entre tu e eu há só distância, uma intimidade reservada que castra a própria vida. Os olhares que se escondem para lá das sebes deixam o aviso...Cuidado com o cão! Apesar do aviso, resiste a vontade de invadir...e partiu-se a vidraça.

Em 25 de Abril de 1974 o Movimento das Forças Armadas (MFA) derrubou o regime de ditadura que durante 48 anos oprimiu o Povo Português. Nessa madrugada do dia inicial, inteiro e limpo (como poetizou Sophia de Mello Breyner) os militares de Abril foram claros nas suas promessas: terminara a repressão, regressara a Liberdade, vinha aí o fim da guerra e do colonialismo, vinha aí a democracia.
Viajo a Sul brincando ser forte, brincando às viagens, às virgens do Sol sem dono. Dentro do comboio vou vestir um manto de palavras insignificantes inventando mil histórias que nunca irei contar, rasgando uma a uma as folhas gastas do dia.

"Ás vezes viro-me e cheiro o teu cheiro e não consigo continuar não consigo continuar foda-se sem exprimir esta merda física horrível merda dolorosa saudade que tenho de ti. Não posso acreditar que sinta isto por ti e tu não sintas nada. Não sentes nada?
Que dirias se junto a ti me sentasse
e te pedisse para me amares
podendo amanhã não existirmos
um no outro?
Conhecerias-me no meio da multidão
se nunca nos tivessemos encontrado?
Por baixo da pele durante a noite nasce uma casca grossa, do frio das paredas e da solidão das multidões. Em rumores calados percorro as cidades, por demais cansadas, por demais estocadas pela vida...sempre por demais sofridas. Morremos cedo...uma morte sem choro. Sempre por demais sofrida, e as cidades não são mais do que espaço que delas ocupamos quando queremos morrer sozinhos.
Que dirias tu? Que dirias se um dia eu fosse uma cidade diferente?
Fotografia de bloodonthemoon5.deviantart.com
A ouvir Sérgio godinho "Que há-de ser de nós"



Jaz a manhã de prata