terça-feira, novembro 29, 2005

Xabregas

Eram 6:43 quando cheguei a tua casa…a tua mãe ainda acordava em fragmentos, toda descabelada e com a camisa de dormir desabotoada. Estava escuro e o orvalho molhou o meu casaco de lã.
Sabia que era cedo demais! Mas não tão cedo porque a mariana ainda comia os cereais ensopados em leite quente de onde saia um vagaroso fumo.
Saímos 10 minutos atrasadas…De sonhos despertos e guitarra às costas partimos rumo à capital procurando respostas.
O caminho fez-se compassado entre as várias cidades, passando por nós mais depressa do que alguma vez tinham feito…não havia nenhuma mensagem mas havia a certeza das suas companhias…A estrada era de algodão, as palavras de riso e os momentos de multidimensionalidade. Ninguém sabia muito bem onde começava a loucura e onde terminava a realidade…
Eram quase onze, na hora exacta para a tua audição. Nem um minuto a menos nem um segundo a mais…Com os movimentos sincronizados subimos as escadas, batemos a porta e de repente desaparecias pela porta. Eras grande na tua humildade e nos teus olhos poucas certezas mas muita doçura…Não havia outro desfecho tinhas mesmo que ser aceite…já estava escrito desde muito cedo!
Perdemo-nos na baixa, fomos pelo Marquês, estacionamos mal o carro, uma velha consumida pela solidão falou-nos ao ouvido, um estrangeiro embelezou o nosso carro, buzinaram-nos, pedimos informações, seguimos indicações erradas…Queríamos almoçar no Rossio e acabamos a lanchar no Feira nova de Xabregas.
Fez-me lembrar a minha vida! Fez-me lembrar que existiram dias que por mais que andasse não chegava a lado nenhum, e todos os dias tinham que ser perfeitos, selados para que não acontecessem imprevistos. Há dias que ainda é assim!
Era Domingo e fomos a Lisboa…Saímos cedo sem nada a perder e com o futuro todo pela frente…e por mais imprevistos chegamos a algum lado, nem que seja a Xabregas! E valeu a pena, porque tudo vale a pena se a alma não é pequena…e o tempo faz-se assim, ora perdidas, ora desorientadas, ora mal estacionadas…
Não encontrei nada…não fui à procura de nada…mas vim com a certeza de que em qualquer lugar que esteja o amor surge nas pequenas imagens que trazemos de dias como estes e de instantes como os que vi e que nunca são perfeitos. Mas foram as suas imperfeições que me fizeram sorrir…Seis horas de viagem entre chuva e sol…perdidas em Xabregas num domingo de feira…Ri-me a viagem toda!
Fui feliz! Numa estranha utopia desejei que o resto dos meus dias fosse assim!
Foi duro voltar à realidade…dói sempre muito! Ainda mais quando nos afeiçoamos às pessoas…
Acabamos a beber leite quente com chocolate e a comer torradas com queijo e marmelada feitas pela tua mãe…
Acabo o dia a pensar na viagem!
Fecho os olhos! Desejo que todos os meus dias sejam assim e que amanhã vou levantar-me às 6:30 não para ir trabalhar mas para fazer uma outra viagem, desta vez para não voltar.
Parabéns Dulce…
Um beijo Mariana…


dimensaoocula

quarta-feira, novembro 23, 2005

Não tenho braços...roubaram-me o coração

Vou contar todas as vezes que te encontrei!
Vou contar todas as vezes que te desencontrei e todas aquelas em que te quis encontrar somando ainda os dias em que te encontrei mas não te vi.
Um traço azul traduzido em números…mil vezes uma voz de cartão e o dinheiro que gastas será todo para construir uma muralha de luz.
Dias, meses, anos…redutível percepção do mundo. Inseridos em caixas de alumínio tornamos os desejos cada vez mais frios. Fiquei a ver o anoitecer …um dia jogamos com as mãos um velho e irreal entorpecer dos sentidos.
Não vejo e raramente sabes o meu nome. Outras tantas o tempo parece não passar.
Hoje é o primeiro dia de aulas e continuo a tirar-te as medidas à espera que a fita métrica avarie e os cêntimetros cheguem até ao céu.
Há dias assim…em que se conta tudo e não se chega a conclusão nenhuma, apenas porque o mundo está empacotado em pequenas caixas de alumínio, onde nem sequer posso esticar os braços sem que as minhas mãos sintam o frio de um fim que está longe de ter começado.


dimensaooculta

segunda-feira, novembro 14, 2005

Frio


Hoje está frio.

O sol pode ser suave, a brisa marinha mas o frio gela. As mãos, os passos e o coração. É assim gelado, sem raios de sol ou qualquer vislumbre de arco-íris...fundamentalmente gélido, só.

A companhia de três garrafas de tinto aguça a chama mas não sossega a solidão. Dissimula mas não esconde. Sorrio mas permaneces longe. Do outro lado da linha só o desepero de quem não fala mas sente, ou de quem tudo sente mas permanece mudo.

As garrafas vazias, tu do outro lado do rio e eu tão só.

Os sons em frente aos clérigos e as recordações de uma noite que não foi.

Ficam, no dia seguinte, os olhos inchados, a garganta seca e passividade de uma tarde de sábado. Ficas tu lá longe, fica o coração só...sem tinto que o acuda.

Até sempre.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Mistérios africanos

O mistério dos fósforos desaparecidos


Comprar uma caixa de fósforos é, em circunstâncias normais, um gesto banal e barato, mas desde há uma semana, capital de Cabo Verde, passou a ser missão quase impossível ou demasiado cara.
De repente os fósforos desapareceram das mercearias da Cidade da Praia para surgirem, ainda que raramente nas mãos de vendedores ambulantes que vendem cada caixa por 30 ou 40 escudos cabo-verdianos (30 a 40 cêntimos do euro).
Isto, quando o preço das embalagens de 12 caixas de fósforos, numa situação normal, custa o preço a que agora é vendida cada uma.
Para resolver o problema, começou a corrida aos isqueiros e estes não só ficaram mais caros, por vezes mais 50 escudos cabo- verdianos, como se tornaram raros, embora menos do que os fósforos.
O "mistério" dos fósforos desaparecidos começou, por estes dias, a ser alvo de uma investigação colectiva.
As versões vão-se acumulando à medida que os dias passam e a Agência Lusa ouviu, em algumas mercearias da Cidade da Praia, as mais estranhas explicações para o fenómeno, sendo a mais bizarra a que aponta para a existência de um insecto que anda a comer a cabeça dos fósforos.
Josefina Teixeira, doméstica, andava à procura, sem sucesso, de "pelo menos uma caixinha" para desenrascar, numa das várias mercearias da Achada de Santo António, na Cidade da Praia.
Não sabia a razão do desaparecimento, mas sabia, "agora", uma coisa simples: "Nunca tinha pensado, na minha vida, que uma caixa de fósforos fosse tão importante!".
Arlinda Semedo, outra dona de casa "desesperada" com "esta coisa de não haver fósforos na cidade", disse à Lusa que há pessoas a comprar caixas por 40 escudos, incluindo ela, que "ainda por cima", teve de dividir a "preciosidade" com uma parente.
A Lusa tentou junto do único importador de fósforos na Cidade da Praia saber a origem desta insólita situação, mas a única resposta que obteve foi a confirmação de que o produto é "actualmente escasso" na cidade... e no país.
No entanto, uma fonte "mais ou menos" conhecedora dos meandros do "mistério" adiantou como razão para o desaparecimento dos "pauzinhos mágicos" o facto de o importador estar à procura de novo fornecedor porque a empresa portuguesa que os exportava para Cabo Verde impôs um aumento severo no custo da mercadoria.
A ruptura dos "stocks" aconteceu igualmente na maioria das ilhas do arquipélago, tornando-se numa das principais dores de cabeça das populações mais pobres, porque para acender os candeeiros a petróleo usados no país, na falta de electricidade, são precisos fósforos.
Em jeito de desabafo, um cidadão da Praia lamentou-se, em conversa com a Lusa, pelo facto de não haver fósforos, mas logo ironizou:
"Não há fósforos, mas quem quiser comprar um carro topo de gama basta ir ao "stand" mais próximo...".


LUSA

[Uma insólita odisseia para os lados de Cabo Verde...tudo muito estranho...fontes "mais ou menos" informadas e tal. É de aproveitar a leitura com sabor a África]

quinta-feira, novembro 10, 2005

Mac Donald's


























Hoje fui ao Mac.

Já la iam uns meses e aquele cheiro das batatas-fritas, os molhos que se espalham pelo tabuleiro, os pickles, o gelo e a coca-cola light...foi bom.
Sabe bem sentir o as gorduras, o óleo, a gente.

Cheguei tarde ao jornal, apanhei o metro à pala, corri, olhei para o relógio. O tempo passa...mas o cheiro a óleo ficou-me preso às mãos. Merda de fast-food.

terça-feira, novembro 08, 2005

Curso de Marketing...italiano

Novas tendências vindas directamente de Itália. E se “quem tem boca vai a Roma”... o Erasmo já lá está!


Curso de Marketing feminino

1) Chegas a uma festa e vês um tipo interessante. Aproximas-te dele
e dizes: “Sou um fenómeno na cama.”- Isto é marketing directo.

2) Estás numa festa com um grupo de amigos e vês um tipo
interessante. Um dos teus amigos aproxima-se e diz-lhe: “Aquela rapariga
é um fenómeno na cama”- Isto é publicidade.

3)Estás numa festa e vês um gajo fascinante. Pedes-lhe o número de
telemóvel. No dia seguinte ligas-lhe e dizes-lhe: “Sou um fenómeno na
cama”- Isto é telemarketing.

4) Estás numa festa e encontras um tipo interessante. Reconhece-lo.
Aproximas-te dele e refrescas-lhe a memória. “Lembras-te como sou
boa na cama?”- Isto é fomento da relação com o cliente.

5) Estás numa festa e vês um tipo muito interessante. Levantas-te, arranjas
a saia, aproximas-te dele e ofereces-lhe um copo. Dizes-lhe como é
bom o seu perfume, elogia-lo, ofereces-lhe um cigarro e dizes-lhe:
“Sou um fenómeno na cama” – Isto são relações públicas.

6) Estás numa festa e vês um tipo muito interessante. Aproximas-te dele
e dizes-lhe: “Sou um fenómeno na cama”, além disso mostras-lhe uma
mama. Isto é merchandising.

7) Estás numa festa e vês um tipo muito interessante. Aproximas-te
dele e dizes: “Ouvi dizer que és um fenómeno na cama”- Isto é Branding –
o poder da marca.


Curso de Marketing masculino

1) Estás numa festa e vês uma gaja boa. Aproximas-te dela e dizes:
“Sou um fenómeno na cama e aguento toda a noite sem parar...”

Esta publicidade é enganosa e punida por lei.


Obrigado Erasmo pelas palavras e pelo sabor de Itália que, apesar da distância, continua persistir.

Saudades*

Corso di marketing al femminile

Aqui, para os mais poliglotas, fica a versão orginal em italiano.

Corso di marketing al femminile


1) Ti trovi ad una festa e vedi un tipo molto affascinante. Ti avvicini a lui e gli dici: "Sono un fenomeno a letto." Questo è Marketing Diretto.

2) Ti trovi ad una festa con un gruppo di amici e vedete un tipo molto affascinante. Uno dei tuoi amici gli si avvicina e gli dice:"Quella donna là è un fenomeno a letto." Questa è Pubblicità.

3) Ti trovi ad una festa e vedi un tipo molto affascinante. Gli chiedi il suo numero di cellulare. Il giorno dopo lo chiami e gli dici: "Sono un fenomeno a letto." Questo è Telemarketing.

4) Ti trovi ad una festa e vedi un tipo molto affascinante. Lo riconosci. Ti avvicini a lui, gli rinfreschi la memoria e gli dici: "Ti ricordi come sono brava a letto?" Questo è Customer Relationship Management.

5) Ti trovi ad una festa e vedi un tipo molto affascinante. Ti alzi, ti sistemi i vestiti, ti avvicini a lui e gli offri un bicchiere. Gli dici come è buono il suo profumo, ti complimenti con lui per il suo completo, gli offri una sigaretta e gli dici: "Sono un fenomeno a letto." Questo è Public Relation.

6) Ti trovi ad una festa e vedi un tipo molto affascinante. Ti avvicini a lui e gli dici: "Sono un fenomeno a letto.", e in più, gli fai vedere una tetta. Questo è Merchandising.

7) Ti trovi ad una festa e vedi un tipo molto affascinante. Ti si avvicina e ti dice: "Ho sentito in giro che sei un fenomeno a letto." Questo è Branding, il potere del marchio.

Corso di marketing al maschile

1) Ti trovi ad una festa e vedi una bella sventola. Ti avvicini a lei e dici: "Sono un fenomeno a letto e resisto tutta la notte senza fermarmi..."

Questa è pubblicità ingannevole, ed è punita dalla legge.

Grazie Erasmo*

sexta-feira, novembro 04, 2005

De mãos dadas

Já não há revolta, não há gritos, sangue ou fúria estampada no rosto. Vive-se assim...tranquila e placidamente.
Já não nada que os arrebate, que os faça lutar...é bonito dar a mão mas os cortes não vivem da paz...a mudança fere, agita.

Numa cultura demasiadamente "light", polida e politicamente correcta, o sangue vive sempre oculto, os gritos congelam-se a fúria permanece enclausurada.

Mais do que viver, sobrevive-se...sem chama, sem amor. Porque o melhor de se viver apaixonadamente é sentir a vida pulsar, é sentir os ponteiros a cada meia hora...é amar.

terça-feira, novembro 01, 2005

Terraço

Há uma leve brisa no ar e o pôr-do-sol neste terraço têm um sabor diferente.
Estou sozinha na casa de mármore branca.
O amarelo do sol é quente enquanto olho o mar.
És tu que chegas, invisível olhando tudo à tua volta apenas para relembrar. Há uma borboleta com asas enormes que foi aranha escondida num longo corredor que não posso atravessar.
Estás imovel nesse corredor e és negro com um contraste de luz branca.
Sufoquei-a com insecticida...de repente todo o mundo foi diferente.
Porque é que as borboletas têm pintas nas asas?
Porque me lembro de tudo o que não vi ou tudo aquilo que esqueci?
Era feliz e podia ver o mar da minha barriga que era um enorme terraço em forma de sonho.


dimensaooculta