dimensaooculta
domingo, maio 14, 2006
Tenho 5 anos e o meu pai segura-me na mão para eu não cair. Diz baixinho, que eu vou ser muito feliz e que cedo vou saber ir para casa voando nos meus sonhos!Mente! Depressa percebo que a mentira é o casulo onde nos sentimos mais protegidos, depressa!Cresço depressa!Com pressa de chegar ao amanhã, com a pressa de ser alguém diferente. Não censuro! Não posso fazer. Amava nem que fosse pelos poemas, nem que fosse pelo chão sujo, ou pelo cheiro dos lençoís. Amava pelo silêncio saturado do banco de jardim durante a madrugada...Não por isso!Terias um grande dicionário de sonhos na entrada da porta e eu não precisava de me sentir observada, nem envolta numa nuvem suspeita de ambiguidades! O dia amanhã vai reagir como se nada tivesse acontecido porque eu assim deixo.
sábado, maio 06, 2006
Les amants, Magritte
Olhou várias vezes para ter a certeza de que não se voltaria a esquecer, olhou sempre na direcção oposta ao do pensamento e da razão, para saber que não podia sentir mais nada naquele momento a não ser a imagem do rosto do rapaz de lenço. No final ficou apenas a imagem do lenço e o pormenor da camisa branca, tudo o resto foi recalcado para um lugar incerto do estômago, sem recuperação possível. Estavam tão perto, quase o fumo dos cigarros se tocava, quase se podia perceber toda a conversa, quase se podiam beijar do sítio onde estavam. Não o fez, ninguém o fez! …Ela só queria ficar com a imagem do rosto do rapaz, queria apenas levar uma realidade que não podia acontecer de maneira nenhuma. Não se tocaram, não se olharam, salvo raras excepções em que ambos se distraíram, não se contaram, não se leram e o tempo foi acontecendo assim: inútil, sôfrego, inerte, apático, doente. Queria gritar o nome dele do fundo do útero. Queria saber o que se escondia por debaixo da camisa branca, queria fechar as portas do mundo, guardar a chave e lembrar o rosto dele sempre que o esquecimento chegasse. Queria poder imaginar que se tocavam, que se conheciam, que se olhavam.
Ficou uma carta por escrever…a promessa de um texto que não se cumpriu. Um adeus sem fundamento e ela não foi capaz de reivindicar a carta, até por naquela hora já nem era isso que importava. Saiu repentinamente, cansada do dia e da noite que lhe seguiu, das pessoas, das conversas, dos falsos amigos, dos desconhecidos, dos conhecidos. Saiu vazia, mais do que tinha entrado. Perde-se muito, quanto se pede muito a quem tem muito pouco! Saiu sem a lembrança do rosto do rapaz, saiu com a pressa de quem se aniquila, saiu sem histórias para contar. Sem a história do beijo que podia ter acontecido em qualquer momento mas que ficou fechado atrás das portas do mundo.
dimensaooculta
Olhou várias vezes para ter a certeza de que não se voltaria a esquecer, olhou sempre na direcção oposta ao do pensamento e da razão, para saber que não podia sentir mais nada naquele momento a não ser a imagem do rosto do rapaz de lenço. No final ficou apenas a imagem do lenço e o pormenor da camisa branca, tudo o resto foi recalcado para um lugar incerto do estômago, sem recuperação possível. Estavam tão perto, quase o fumo dos cigarros se tocava, quase se podia perceber toda a conversa, quase se podiam beijar do sítio onde estavam. Não o fez, ninguém o fez! …Ela só queria ficar com a imagem do rosto do rapaz, queria apenas levar uma realidade que não podia acontecer de maneira nenhuma. Não se tocaram, não se olharam, salvo raras excepções em que ambos se distraíram, não se contaram, não se leram e o tempo foi acontecendo assim: inútil, sôfrego, inerte, apático, doente. Queria gritar o nome dele do fundo do útero. Queria saber o que se escondia por debaixo da camisa branca, queria fechar as portas do mundo, guardar a chave e lembrar o rosto dele sempre que o esquecimento chegasse. Queria poder imaginar que se tocavam, que se conheciam, que se olhavam.
Ficou uma carta por escrever…a promessa de um texto que não se cumpriu. Um adeus sem fundamento e ela não foi capaz de reivindicar a carta, até por naquela hora já nem era isso que importava. Saiu repentinamente, cansada do dia e da noite que lhe seguiu, das pessoas, das conversas, dos falsos amigos, dos desconhecidos, dos conhecidos. Saiu vazia, mais do que tinha entrado. Perde-se muito, quanto se pede muito a quem tem muito pouco! Saiu sem a lembrança do rosto do rapaz, saiu com a pressa de quem se aniquila, saiu sem histórias para contar. Sem a história do beijo que podia ter acontecido em qualquer momento mas que ficou fechado atrás das portas do mundo.
dimensaooculta
sexta-feira, maio 05, 2006
Minho em choupo híbrido
O nome rebuscado esconde a beleza singela dos fragmentos de nuvem que ontem envolviam Guimarães. São pedaços que se desprendem dos choupos híbridos e que pintaram um dia assim.
Passava um jazz suave, sons que se envolviam nos fragmentos de choupo híbrido, tão próximos e tão esguios. Escondem-se da brisa insistente, do disparo da máquina fotográfica. Impenetráveis. Depois dos rojões, o Centro Cultural de Vila Flor sabe bem, abafa a digestão. É o espaço em ponto-morto à hora de almoço, é a leve brisa que se levanta, é o aço inoxidável que grita. E a paisagem, a subida para a Penha e o castelo em fundo. Foi a meia-hora de espera e a música que envolve o vento, que silencia os passos mudos.
Lá fora, já de saída, o jazz foi-se, os traços rasgados do edifício ficaram para trás e volta-se a ouvir a gente que fala e que sofre pelo Vitória. Desilusões de quem persiste na dor. Estranhas ironias que nos levam, neste mundo tão atávico, a agonizar perante uma descida de divisão. Para o consolo da alma fica o vinho verde e as letras encrustadas que, de saída, lembram "Aqui nasceu Portugal".
quarta-feira, maio 03, 2006
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