Les amants, Magritte
Olhou várias vezes para ter a certeza de que não se voltaria a esquecer, olhou sempre na direcção oposta ao do pensamento e da razão, para saber que não podia sentir mais nada naquele momento a não ser a imagem do rosto do rapaz de lenço. No final ficou apenas a imagem do lenço e o pormenor da camisa branca, tudo o resto foi recalcado para um lugar incerto do estômago, sem recuperação possível. Estavam tão perto, quase o fumo dos cigarros se tocava, quase se podia perceber toda a conversa, quase se podiam beijar do sítio onde estavam. Não o fez, ninguém o fez! …Ela só queria ficar com a imagem do rosto do rapaz, queria apenas levar uma realidade que não podia acontecer de maneira nenhuma. Não se tocaram, não se olharam, salvo raras excepções em que ambos se distraíram, não se contaram, não se leram e o tempo foi acontecendo assim: inútil, sôfrego, inerte, apático, doente. Queria gritar o nome dele do fundo do útero. Queria saber o que se escondia por debaixo da camisa branca, queria fechar as portas do mundo, guardar a chave e lembrar o rosto dele sempre que o esquecimento chegasse. Queria poder imaginar que se tocavam, que se conheciam, que se olhavam.
Ficou uma carta por escrever…a promessa de um texto que não se cumpriu. Um adeus sem fundamento e ela não foi capaz de reivindicar a carta, até por naquela hora já nem era isso que importava. Saiu repentinamente, cansada do dia e da noite que lhe seguiu, das pessoas, das conversas, dos falsos amigos, dos desconhecidos, dos conhecidos. Saiu vazia, mais do que tinha entrado. Perde-se muito, quanto se pede muito a quem tem muito pouco! Saiu sem a lembrança do rosto do rapaz, saiu com a pressa de quem se aniquila, saiu sem histórias para contar. Sem a história do beijo que podia ter acontecido em qualquer momento mas que ficou fechado atrás das portas do mundo.
dimensaooculta
Olhou várias vezes para ter a certeza de que não se voltaria a esquecer, olhou sempre na direcção oposta ao do pensamento e da razão, para saber que não podia sentir mais nada naquele momento a não ser a imagem do rosto do rapaz de lenço. No final ficou apenas a imagem do lenço e o pormenor da camisa branca, tudo o resto foi recalcado para um lugar incerto do estômago, sem recuperação possível. Estavam tão perto, quase o fumo dos cigarros se tocava, quase se podia perceber toda a conversa, quase se podiam beijar do sítio onde estavam. Não o fez, ninguém o fez! …Ela só queria ficar com a imagem do rosto do rapaz, queria apenas levar uma realidade que não podia acontecer de maneira nenhuma. Não se tocaram, não se olharam, salvo raras excepções em que ambos se distraíram, não se contaram, não se leram e o tempo foi acontecendo assim: inútil, sôfrego, inerte, apático, doente. Queria gritar o nome dele do fundo do útero. Queria saber o que se escondia por debaixo da camisa branca, queria fechar as portas do mundo, guardar a chave e lembrar o rosto dele sempre que o esquecimento chegasse. Queria poder imaginar que se tocavam, que se conheciam, que se olhavam.
Ficou uma carta por escrever…a promessa de um texto que não se cumpriu. Um adeus sem fundamento e ela não foi capaz de reivindicar a carta, até por naquela hora já nem era isso que importava. Saiu repentinamente, cansada do dia e da noite que lhe seguiu, das pessoas, das conversas, dos falsos amigos, dos desconhecidos, dos conhecidos. Saiu vazia, mais do que tinha entrado. Perde-se muito, quanto se pede muito a quem tem muito pouco! Saiu sem a lembrança do rosto do rapaz, saiu com a pressa de quem se aniquila, saiu sem histórias para contar. Sem a história do beijo que podia ter acontecido em qualquer momento mas que ficou fechado atrás das portas do mundo.
dimensaooculta
2 comentários:
Por não querer ser mais, acabarei a não ser nada. E pior do que não ser nada, é acabar os dias a querer ser outra coisa que não este tanto que tenho dentro de mim!
alguém ausente das obrigações naturais do ser humano...:)
está td bem contigo? demorou o post prometido há tanto tempo...
dimensaooculta
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