terça-feira, janeiro 16, 2007

Tom Waits - Take Me Home

À Maria Ermelinda
Ao Cunha


A manhã começou crua. Com sabor a morte e a perda. A morte poderia passar incólume mas a sensação de vida interrompida acompanhou-me nos vinte minutos que separam Figueira de Mato do Campo 24 de Agosto. Passa-se a ponte mas o frio permanece. Começar o dia com o peso da liberdade que se perdeu não é fácil.

Ela morreu de cancro de mama. Ele está preso. Ela era a mulher forte que morou, durante anos, na casa ao lado. Ele, o mecânico da rua que me enchia os pneus da bicicleta. A morte era um desfecho esperado, as grades da prisão não. O peso no estômago é pela liberdade que se perde. Há dois filhos que deixaram de abraçar a mãe, há uma filha que esquece o calor do abraço forte do pai. Há uma rua que ficou mais triste, há pessoas votadas ao abandono.

Há quem vá chorar durante todo o dia de hoje, há quem deixará de abraçar a filha e levá-la de manhã à escola. Perdeu-se uma mãe, interrompe-se um pai.
Eu, e a irrelevância da minha dor, ficam com aqueles que perdem. Pelos dois filhos que perderam a mãe, por aquele que perdeu a liberdade. É difícil acreditar em postulados como 'nada se perde, tudo se transforma'. A brutalidade da dor não se reconforta com as certezas da ciência.

1 comentário:

Bruna Pereira Ferreira disse...

Um friosinho passou-me pela espinha...
Arrepiante.

:)