sábado, junho 10, 2006





















"...Outra vez te revejo,
Sombra que passa através de sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim.
Um bocado de ti e de mim!..."
Fernando Pessoa 1926
Fotografia a partir de um quadro de William Blake

dimensaooculta

6 comentários:

Anónimo disse...

magnífico pedaço, se contudo o resto dele que faz dele inteiro conseguir, nem que por um segundo deste tempo do mundo, conseguir dissolver o mistério por inteiro: parte-se o espelho ao olho profundo do cheiro da cor do azul para, afinal, vestir o negro estendal, para... afinal.

Anónimo disse...

...para que finalmente, possa ser ausente de uma presença, nunca ela inteira, por não ser deste Mundo...

dimensaooculta

Luísa disse...

ui, alguém anda a ler muito Fernando Pessoa.. Não sei se é bom sinal... lol

Anónimo disse...

:)

dimensaooculta

Anónimo disse...

"Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém."


João Roiz de Castel-Branco
século xv

Dói-me muito agora para algo meu,
mas aqui fica alguém que igual sentiu e,
há muito o escreveu.


arcanjo miguel
século 21

Anónimo disse...

"Os versos
que te digam
a pobreza que somos
o bolor
nas paredes
deste quarto deserto
os rostos a apagar-se
no frémito
do espelho
e o leito desmanchado
o peito aberto
a que chamaste amor."
Carlos de Oliveira
Bolor

Vamos sempre tentando na vida rimar, como um camponês que tenta firmar a sua colheita depois de uma tragédia. Tentando encontrar um descanso no coração das árvores, tentado ficar em bicos de pés para mostrar que somos grandes, sem querer olhar para os lados. Escutando os desenhos feitos dentro das mãos, cansadas de tantas horas de tempo. Tentando…lavando os tectos de feridas abertas que teimam em arrepiar as estrelas…tentando tanto que o esforço faz chorar as crianças dentro da alma, tentado tanto que se rasgam os tecidos rígidos do corpo…tentando tanto que o tentar já se dá pelo nome de desespero. Que dos meus olhos já não sai tristeza…nem a vejo nos olhos de outros. Apenas me chega um discurso esquivo que se deita do meu lado esquerdo e nunca chegará para apagar a pobreza do embuste.


dimensaooculta