Hoje falo de solidão.
Não se sente, não se vê. Ausculta-se e esconde-se.
Há pessoas e vozes, há um ruído demasiado perturbador. O acto de escrever, de exteriorizar algo daquilo que nos resume leva-nos, quase sempre, a despertar estados de alma que preferíamos ver ocultos. A mão treme e os sentimentos serpenteiam , quase sem pudor, pelos contornos de uma máquina arcaica. Sinto-me assim irritada, triste. Mas, há quem ao lado continue a comentar o Porto- Sporting de sábado. As horas passam e desenrolam-se possíveis resultados, expulsões prováveis e as angústias de início de semana.
Infelizmente, as conversas banais são sempre subjugadas. Prefiro a honestidade da simplicidade à prepotência do intelectualismo forçado.
São as memórias da minha infância simples...fui tão feliz, tão livre.
Agora aqui, presa às máquinas e às pretensões alheias, reencontro-me só com a angústia.
A moda é, aliás, cultivar os desassombros da alma, reflectir numa vida que não nos preenche. Felizmente, nuca fui de modas e agora quero voltar a ser a miúda da desfolhada e o anjinho da Santa Apolónia. Quero voltar a ser feliz. Quero que se fodam os intelectualismos e as falsas verdades. E quero que o Ricardo apanhe com três ou quatro.