terça-feira, abril 04, 2006

Quero voltar a ser feliz...

Hoje falo de solidão.

Não se sente, não se vê. Ausculta-se e esconde-se.
Há pessoas e vozes, há um ruído demasiado perturbador. O acto de escrever, de exteriorizar algo daquilo que nos resume leva-nos, quase sempre, a despertar estados de alma que preferíamos ver ocultos. A mão treme e os sentimentos serpenteiam , quase sem pudor, pelos contornos de uma máquina arcaica. Sinto-me assim irritada, triste. Mas, há quem ao lado continue a comentar o Porto- Sporting de sábado. As horas passam e desenrolam-se possíveis resultados, expulsões prováveis e as angústias de início de semana.
Infelizmente, as conversas banais são sempre subjugadas. Prefiro a honestidade da simplicidade à prepotência do intelectualismo forçado.
São as memórias da minha infância simples...fui tão feliz, tão livre.
Agora aqui, presa às máquinas e às pretensões alheias, reencontro-me só com a angústia.
A moda é, aliás, cultivar os desassombros da alma, reflectir numa vida que não nos preenche. Felizmente, nuca fui de modas e agora quero voltar a ser a miúda da desfolhada e o anjinho da Santa Apolónia. Quero voltar a ser feliz. Quero que se fodam os intelectualismos e as falsas verdades. E quero que o Ricardo apanhe com três ou quatro.

8 comentários:

margarida disse...

Subscrevo... é nisto que as mulheres são diferentes dos homens, são genuínas e verdadeiras.
Ainda bem que usaste as palavras!

Anónimo disse...

Subscrevo (obviamente)...não podia deixar de o fazer e tu sabes bem porque. Se eu tivesse 28 anos e hoje recebesse a mais bela carta de amor, não me punha com merdas e mandava, também eu ( tal como tu), foder as falsas verdades. Mas eu não recebi carta nenhuma! Muito menos de amor...
E aqui entre nós, que ninguém nos oiça, ele que vá cultivar os assombros da alma para outra horta. De nabos está o mundo cheio!
O importante é que vou sempre sentir-me feliz, enquanto souber que a angústia que sinto é temporária, porque me reencontro muitas vezes com a honestidade, com os acasos simples e livres de paradigmas. Feliz porque no culminar explosivo de uma péssima semana, pude ouvir uma gargalhada franca. A tua tão presente risada a dizer que amanhã, certamente não correrá pior. Posso quase apostar que não...
Até breve amiga...pelo menos até informações em contrário.
dimensaooculta

Luísa disse...

Tas num dia mau, moça... deprimida?
pois, por isso é que eu deixei de escrever, porque "O acto de escrever, de exteriorizar algo daquilo que nos resume leva-nos, quase sempre, a despertar estados de alma que preferíamos ver ocultos"
Escrever exige algo de nós que eu provavelmente já nao quero dar, apesar de isto parecer uma desistência...
Mariana, tenta escrever quando estás feliz, e não quando estás triste... é um desafio...

Até porque...
EU JÁ SOU UMA DEPRIMIDA DO CARAGO, ANDO SEMPRE A FUGIR À DEPRESSÃO E DEPOIS CHEGO AQUI E VEJO ISTO!!!! CREDO!

Anónimo disse...

A depressão luuu é um reflexo do significado dado ás coisas. Se leres atentamente sem o espectro da tua depressão encontras um "je ne sais quoi" de esperança. "La vie est belle, parfois".
dimensaooculta

Anónimo disse...

E então arcanjo...o benfica?
Os pássaros lá ficaram a mordiscar os restos do bolo de arroz, e o professor a falar do programa dança comigo.
Tivesse ido eu ter contigo hoje...
beijinhos
dimensaooculta

Anónimo disse...

Habif Harim, palavra iluminada.
Enquanto os pássaros degustam a mioleira doce, eu fico-me por um tinto maduro de 98, porque os arcanjos também podem enriquecer o sangue.
Un petit poème.

Meus amigos como podeis ver,
a minha casa é simples,
não aspira nem transpira,
a mais.

Disse-me uma vez um moleiro,
que aqui esteve,
qualquer coisa assim,
"Olha ali um farol,
dái benção às águas,
para o pão ser mole."

Eu nada vi,
apenas a vela do sossego sobre o para-peito
da janela,
Costume antigo e de paz.

Claro que para o moleiro,
era algo de, mais que o pão,
era mais de algo, que,
lhe cabia na emoção.

Não lhe menti,
nem omiti,
confessei apenas,
é a minha luz que de noite me guia.

Embora a casa,
continua-se...
alheia a tudo.
Apenas com a preocupação,
ou ocupação de ser simples,
nada mais.

Manter a mesa à esquerda
da entrada,
os dois sofás mais adiante,
o candeeiro na sua dignidade de pé.
Até a secretária,
vinda fora de tempo,
não incomoda.

Porque a casa é simples,
sem apetrechos ou fetiches,
nem inspirações morais.

O moleiro partiu,
disse lá na terra,
do topo da mais antiga escada de caracol,
que tinha visto na cidade um farol.

Pedro estorninho


Os arcanjos não existem co asas, e isso deve-se ao facto de também terem dores.

Luísa disse...

paixão, eu leio sem o espectro da minha depressao, e por isso é que vejo ali uma! ehehe
Quase toda a depressão tem um "je ne sais quoi" de esperança. Acho eu.
Ó Benfica é que faltaram as asas...

Luísa disse...

Não me acredito que escrevi "ó benfica"...