domingo, janeiro 08, 2006

Gesto

Eu fico quando tudo o resto foi esquecido nas luzes mornas dos candeeiros, por entre um nevoeiro amarelo. Estão oito pessoas na mesa e todos se preocupam mais em ser ouvidos do que em ouvir. Discutem sem chegar a conclusão nenhuma, discutem sem saber o que estão a discutir, falam sem saber o que estão a escutar. Ensaiam defeitos e não decoram as soluções. Grito da minha cadeira e ninguém me ouve, choro da minha cadeira e ninguém vê…morro da minha cadeira e ninguém chora. Não sabes que não estamos a brincar?! Não sabes que basta apanhar uma luz para tudo ficar melhor?! Venho embora sem saber porque fiquei…a discussão continua inútil, infinitamente infértil. A rua lá fora parece gelada com as pessoas coladas na parede, com os passeios perdidos na madrugada que se inspiram pelas estátuas dos jardins. Venho embora sem desculpa, embora sem conteúdo, embora sem as malas, embora sem uma palavra, sem história, sem mim que fiquei na beira da estrada à espera que o sinal ficasse verde. Sozinha com as roupas geladas, com os passos incertos e os movimentos lentos. Parece que o cão vai morrer por atravessar a estrada para vir ter comigo. Invariavelmente todos acabam por fazê-lo. Eu esperei que ficasse verde sem saber porque…alguém me sussurrou qualquer coisa do jardim…fiz de conta que não sentia! Demasiadas vezes faço de conta…tantas que já perdi a conta ás vezes que julgava sentir! Tentar explicar isto? Numa conversa esforçam-se por se fazerem compreender em vez de compreender…deixo de insistir! Até porque amanhã já esqueci!
Apetece bolo de chocolate numa sala quente com pessoas que inspiram, mas a casa está vazia, glacial e o único chocolate foi aquele que não sobrou da época festiva. Resta-me imaginar.
Adormeço a saber que me resta muito pouco tempo e que o tenho desperdiçado em coisas que não me dizem nada, acordo com dores de olhos, com as palavras acorrentadas ao chão de lama, com as mãos fechadas ao vento, com o corpo irreal, com a alma descerrada.
Não era isso que queria dizer! Não era de todo isso que queria sentir! Não é isso que dói!
Adormeço outra vez…Amanhã esqueço!

dimensaooculta

6 comentários:

Anónimo disse...

Mª,partilho o sentimento desta dimensão.
...é uma encenação que eu vivo mas não escrevo...e não escrevo...!!!...
...Lê-la...alivia... e faz olhar por fora.
...é melhor que conversar com deus...
Um Grande beijinho para ti.
Boa sorte.

Anónimo disse...

Dea

Anónimo disse...

Alívia como um choro não forçado...daqueles que nos apanha nas escadas rolantes e vai até à porta de casa...
Partilhamos todos as mesmas emoções e no entanto precisamos tanto para entender o que os outros sentem, quando na verdade bastava tão pouco...bastava estar disponível.
Hoje! Amanhã depois de amanhã, depois do depois de amanhã...os dias constroem-se assim...sempre à espera que o amanhã seja melhor...
Sabes...Estou exausta!
Um beijinho e boa sorte para ti também.

dimensaooculta

Anónimo disse...

Minhas lindas, os lanços de sangue unem-me à dimensão oculta mas parece-me que devo parabenizar todas pela qualidade dos textos e pela criatividade com que os expõe.
Adicionei o v blog aos favoritos e prometo ser, daqui para a frente, uma leitora mais assídua... e quem sabe mandar umas palavrinhas?!!!

Anónimo disse...

Vindo de ti (meu tão forte laço de sangue) esse elogio, sinto-me capaz de escrever um romance, sinto-me capaz de copiar poemas para folhas e distribuí-las na rua, oferecer frases, pintar uma parede com histórias...
Só porque tudo o que vem de ti, vem sempre com um amor que não conheço fim e ainda hoje olho para ti com o mesmo olhar que fazia quando era pequenina...És enorme meu amor, linda e especial...E sei que parte do que sou hoje devo-te a ti, por sempre teres sido fonte de inspiração.
Amo-te muito...

dimensaooculta

Anónimo disse...

bom comeco