quinta-feira, julho 03, 2008

Sabes meu amor, uma vez vi-te num sítio incerto e olhaste-me como nunca se pode olhar uma mulher. Não sei que nome dar a esses olhos mas eram um abismo dentro de uma piscina azul cheia de peixes cor das laranjas do meu quintal.
Eu não queria que me conhecesses, eu não queria de todo ter que articular uma única palavra para chegar até ti, o certo é que desde o azul da piscina até o azul do mar, que as palavras não se cansam de chegar e o mundo não se cansa de me esbarrar contra ti na estranha arte dos encontros após eternos desencontros.
Naquele corpo como sempre me conheceu não há transparência que não se suje com a vontade lúgubre de corpos apodrecidos ao sol, com a vontade de comer por dentro da carne, deixando os lábios vermelhos de sangue.
Ainda vejo o azul da piscina…lá dentro ainda vejo bailarinas em pontas a dançar dentro do azul da água, dentro da transparência das minhas mãos, por baixo do sangue das feridas…Por vezes ainda consigo ver!

Pintura de Edgar Degas

12 comentários:

Anónimo disse...

Juro que não era eu! Os meus olhos têm aquela côr que precede a bonança e quando cheguei já só vi bailarinas ondulando ao som do Lago dos Cisnes. Uma delas, transparente como cristal e sem vestígios de sangue, eras tu. Só te pedi que me deixasses brincar com os teus sonhos...
n.

Oriana Tavares da Rocha disse...

E eu deixei?Deixei que brincasses com os meus sonhos?

Anónimo disse...

Puseste uma condição: brincarmos juntos com os nossos sonhos.
n.

Oriana Tavares da Rocha disse...

Não me recordo de nenhuma dessas palavras.

Anónimo disse...

Embora não tivesse ficado muito perturbado pelo surrealismo da cena, admito que não fossem essas exactamente, as palavras ditas. Fica contigo a oportunidade da rectificação.
n.

Oriana Tavares da Rocha disse...

?
Eu conheço-te?

Anónimo disse...

Pessoalmente, não nos conhecemos. Vivo no Algarve e as vezes que fui ao Porto foi de fugida. Mas a net tem esta particularidade interessante: as pessoas revelam-se melhor aqui, onde se expressam mais livremente, do que numa relação pessoal. Bom resto de Domingo.
n.

Oriana Tavares da Rocha disse...

Permite-me discordar em absoluto.A net não é local de revelação, expressão talvez.
Nunca achei que na net as pessoas se sentissem mais impelidas a ser honestas. Livremente ou não todos nós somos expressão...e como tal a expressão é o global...este todo que de todo não é possível com estas conversas de pescada mal descongelada.
Em todo caso...parabêns. Suscitas-me algum interesse na fase inicial, pensei que eramos conhecidos.
Bom Domingo

Anónimo disse...

Naturalmente, a pessoa mais exposta és tu. Percorrendo o teu blog, pela escolha dos temas, pelo modo como os abordas, é possível fazer uma avaliação muito aproximada do teu carácter. Obviamente, a inversa não é verdadeira. Se passo por aqui com alguma frequência é por que me pareces uma pessoa muito sensível - já o disse - e com um sentido estético muito apurado. E, também, por que há uma relação bionívoca, há réplica.
Há dias, num programa sobre ensino à distância, uma aluna entrevistada dizia ter ficado surpreendida por ter conseguido estabelecer um conhecimento mais íntimo com colegas que nunca tinha visto pessoalmente do que, anteriormente, com colegas de turmas presenciais. E esclarecia que se abria mais com os distantes do que seria capaz com os que tinha contacto próximo e sentia reciprocidade nesse sentimento. É evidente que não se trata de contacto aberto como o que aqui ocorre, pelo que não é possível extrapolar. Não se trata de que as pessoas sejam mais impelidas a ser honestas, mas a revelarem qualquer coisa (muito) de si, o que não ocorre num encontro furtuito de rua, onde o conhecimento prévio é zero. Concordas? Dorme bem e pensamentos positivos!
n.

Oriana Tavares da Rocha disse...

Continuo a não concordar. Essa facilidade de estabelecer um contacto mais íntimo com colegas que nunca viu presencialmente reflecte a forma patológica das relações desta nova geração.
Ainda sou adepta e continuarei a ser, das relações(todas elas) que nascem do confronto directo com o olhar.
As palavras perdem-se no tempo, perdem-se no espaço e na distância dos caracteres...o olhar permanece, a linguagem não verbal ilucida-nos.
Abraços.

S. disse...

Agradeço-te teres-me feito estremecer...gosto tanto de me emocionar com as palavras que por aqui encontro :)
e este quadro...perfeita combinação de imagem e palavras.

Oriana Tavares da Rocha disse...

Eu é que agradeço S. É bom alguém que goste das nossas palavras.
Obrigada pela tua presença.