quarta-feira, junho 25, 2008

Quantas vezes me tenho esquecido de sonhar.
Rego o corpo de desejo
alimentando a fome dos outros
que vem poisar
no meio do meu útero.
Sou Mulher.
Mulher fértil, Mulher louca...Mulher.
Tenho em mim todos os desejos
de homem, de sede e de mar e
sofreguidão de ser ainda mais Mulher
de feições rudes, passo largo
lavrando os caminhos onde me conto.
Mulher de sexo, Mulher mãe
Mulher erótica, Mulher de amor
Puta de Mulher.
Escorrem gotas de suor
enquanto danço por baixo da chuva
desejando ser ainda mais Mulher.

Edvard Munch (Madonna)

13 comentários:

margarida disse...

etá mulher do carago....!!!!

Anónimo disse...

Não há por aí um convite para essa rain dance?

Oriana Tavares da Rocha disse...

Não tenho por hábito convidar estranhos para danças na chuva. Mas podemos sempre limar essa aresta.

Anónimo disse...

Estava a pensar na utilidade dum guarda-chuva e eis que me falas numa lima. De qualquer modo um suave não... Anima-me o voluntarioso e optimista D. Quixote que nos ensina que entre o sim e o não duma mulher não cabe o bico duma agulha. Ah! e o pormenor de que o estranho é a fase que, sempre, antecede a do conhecimento. Um bom domingo.
n

Oriana Tavares da Rocha disse...

Não terias que recusar nada querido N porque nenhum convite foi feito, apenas a transparência da sugestão. A verdade é que numa dança entre a chuva o conceito primordial será não usar guarda-chuva, percebo o medo, quem anda à chuva molha-se. A cautela é uma defesa muito peculiar no reino animal.
E não te esqueças que as fantasias de D.Quixote sempre foram desmentidas pela realidade...por isso é que é um livro cómico e produz a sensação constante de nos encontrarmos encerrados em limites estreitos, tal como o facto de entre o sim e o não de uma mulher não cabe o bico de uma agulha..Será sempre uma frase que morrerá face à dura realidade.
Estranho não é fase é condição. Estranha-se. Acho estranho. A rapariga é estranha. Esta comida tem um sabor estranho. Tenho pensamentos estranhos.
A fase que antecede a do conhecimento é a da ignorância.
Mas nenhum vocábulo detém a exaltação do mínimo. Um bom domingo!

Anónimo disse...

Desculpem lá a intromissão, mas ainda não estou lá muito convencido que o Quixote seja um livro cómico, Cervantes deixou o sorriso para o público do seu tempo, mas deixou a tragédia para a eternidade.
Chamo-lhe trágico porque é precisamente a negação quase consciente (ou mesmo consciente em algumas passagens)da realidade que provoca o sofrimento do da Triste Figura.
E já agora, quem fala na distância de alfinete entre o sim e o não feminino é o Sancho, não o Quixote, aliás, é mais um dos pontos de discórdia entre os dois. Espreitem lá o capítulo XIX da segunda parte e a resposta que Quixote dá a Sancho depois do discurso do sim e do não e da inversão na roda do destino :)

Abraços,
M.

Oriana Tavares da Rocha disse...

Não achas que o facto de ele se envolver numa série de aventuras, as suas fantasias serem desmentidas não dá um efeito humorístico.A paródia criada por Cervantes. Falo de cor. Não acho que seja trágico, desconheco os promenores dos cápitulos.
Mas sei seguramente que a obra é uma "prosa épica de escárnio" sem lhe tirar obviamente a profundidade. Cómico tb pode ser profundo. Não me alongo mais sobre a obra porque entraria em dominios desconhecidos, não é obra que me fascine.
Porém muitas opniões se levantam...é salutar. O importante é participar embora os pontos de discória entre mim e o N não fossem esses.

Volta sempre M

beijinhos

Anónimo disse...

Tenho voltado sempre para ler (e ver), mas vou tentar participar mais, mas sabes como sou, mais observador do que participante.

Quanto ao Quixote, realmente existem os episódios cómicos, quase toda a produção em torno de Quixote explora a comicidade, e por acaso até nem é uma comicidade profunda, é um humor quase sempre muito físico, burlesco até. Claro que me rio com algumas passagens, tal como me rio com o Chaplin (são universos de humor semelhantes, curiosamente), mas o fundo do texto é muito triste, porque a piada é feita a partir do infortúnio de alguém, e nisso o Cervantes é magistral, pois à medida que nos dá a conhecer melhor a personagem, a sua dimensão humana, percebemos que o Quixote sabe em muitas ocasiões que está a ser gozado, a solução que ele encontra é a mais triste, que é permanecer na fantasia, atira-se sempre de cabeça apenas porque não quer reconhecer (perante ele e os outros) que a sua vida é uma farsa, reconhecer isso seria desistir dos seus ideais de sonho.
Quando finalmente, nas praias de Barcelona, é forçado a abandonar o seu sonho e, digamos assim, cair em si, o que vemos é um homem destroçado, praticamente mudo, chega a pedir desculpa por ter tentado mudar o mundo. Torna-se apático e deixa-se, literalmente, morrer.
Mas enfim, haveremos de falar sobre o andante cavaleiro noutra altura.

Beijoca,

M.

Oriana Tavares da Rocha disse...

Sim M...sempre mais observador...reconheço-te. É bom ter-te aqui!

Abraços

Anónimo disse...

Li o mais notável romance de Cervantes há muitos anos. A cultura, alguém disse, "é o que fica depois de esquecermos o que aprendemos". E, tantas vezes, o que retemos vai-se diluindo com o tempo e não nos ocorre com a precisão que desejaríamos... Foi o caso da citação que é, de facto, de Sancho Pança e aqui fica o agradecimento a M. pela correcção. Um romance que nos revela sabedoria, amizade, enternecimento, encantamentos, loucuras, divertimentos, que exalta a nossa capacidade de sonhar e que ainda por cima o faz de forma humorística, satírica e tendo como figura principal um homem que luta pelo amor, paz e justiça, apesar da sua abalada razão, ou principalmente por isso, tem que ser, é, uma grande obra.
Ana, que tens a sensibilidade à flor da pele e que escreveste a coisa mais sentida que eu li em toda a net (o ternurento post sobre a ida da tua irmâ para Coimbra, Março de 2008) irias gostar de lê-lo.
Voltando ao assunto do comentário, utilizei o "estranho" como antónimo de "conhecido", ambos subtantivos, reconheço com uma certa liberdade, mas num registo poético como têm decorrido as nossas trocas de impressões. Quanto à frase do bico da agulha, se olhares à tua volta, verás o seu acerto numa elevada percentagem. As circunstâncias, o momento, o estado de espírito, condiciona-nos mais do que às vezes queremos admitir.
Ab.
n.

Oriana Tavares da Rocha disse...

Concordo mas esse condicionamento não é só caracteristico das mulheres. Quando acabar a minha "jornada para a noite" vou pensar nesse D.Quixote.
Abraços fraternos

S. disse...

Eu só venho cá dizer que te lembres sempre de sonhar e de dançar com a vontade na palma da mão...és o que tu quiseres :)

Oriana Tavares da Rocha disse...

:)