quinta-feira, março 27, 2008

Quando tinha 9 anos a minha irmã foi estudar para Coimbra. Ela tinha feito 19 em Agosto e lembro-me do orgulho que sentia nela assim como da dor que foi ao ver que ia embora e deixava de estar connosco todos os dias.
Cada um chorou à sua maneira…eu andava com a fotografia dela para todo o lado. Um dia num exame de ciências, a professara pensando que eu estava a copiar, levantou a folha do exame e descobriu a fotografia que levava para não me esquecer de tudo o que ela era para mim…chorei tanto nesse dia de tantas saudades que sentia.
Desde os 9 que estou habituada a estar com a minha irmã quando vem aos fins-de-semana, não todos, não tantos como gostaríamos e de todas as vezes que ela vai embora, fica o mesmo vazio, o mesmo silêncio suspenso no tempo, a mesma dor dos meus 9 anos, a estranha pequenez e a ideia de que não vou conseguir viver sem ela ao meu lado. As lágrimas escondem-se atrás do tempo e aperta-me a garganta reduzindo o coração a pó.
Queria ficar a olhar-te sempre que chegas…sentir o teu cheiro de alfazema no meu quarto. Ficar a abraçar-te como anteontem no escuro da minha solidão.
Fazes-me falta mana e não te digo vezes suficientes que te amo. Mas a verdade é que sinto a tua falta como a criança que ainda existe dentro de mim e sinto medo, tanto que por vezes nem consigo respirar.

Volta depressa.

fotografia de Napoleon Brousseau on Deviantart


6 comentários:

Anónimo disse...

Quando eu tinha 9 anos, havia manos na casinha que já eram crescidinhos também. Havia outros que, tal igual o ciclo da idade, ainda eram crianças, mais crianças do que eu. Hoje relembro duas décadas, passando os meus olhos nas tuas letras, e trespasso na memória viagens longínquas onde o relógio não chega. E retido pela voz de uma brilhante sensação, é com emoção que me sinto a olhar simplesmente parado no tempo.

Um abraço, menina de olhos doce.

margarida disse...

comovente e lindo. obrigada.
abraço forte.

Mariana disse...

O sangue é a primeira ligação que temos, é aquela que nos aquece quando tudo parece ter arrefecido. Acredito na força do sangue e do amor. É bom saber que as duas se unem aqui, que se leiam aqui. Porque os sentimentos não servem só para se prender aos órgãos internos, quase como refúgio da vontade. Existem para isto, gritar bem alto, apontá-los numa folha e dá-los a ler.

Beijos às duas**

S. disse...

Conheço esse aperto de que falas a admiração que nos enche o peito por uma irmã mais velha...arrisco-me a dizer que uma relação de irmãos é mais sólida quanto mais forem os anos que os separam.

Obgd pela tua visita e epal perfeita compreensão da tua cidade e de tudo o que ela significa :)

Anónimo disse...

um belo texto a fazer lembrar Jose Luis Peixoto, pela cadência e pela ligação à presença da familia em momentos que nos marcam a vida, quer pelas partidas quer pelas ausências...

bjs e continuem o bom trabalho nas fotos e nos textos ;)

Oriana Tavares da Rocha disse...

Drokinhas :))))
ainda bem que gostaste, embora essa comparação ao Peixoto me faça torçer o nariz :(
Mas o importante é que nos visites e que de alguma forma encontres beleza nos textos e na escolha das fotografias.

Beijão grande