quinta-feira, fevereiro 28, 2008
domingo, fevereiro 17, 2008
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
O meu pai tem 64 anos, está casado com a minha mãe, já nem eu sei desde quando.
Hoje quando acordei olhei pela janela e vi o meu pai a remexer no jardim, de cócoras, a andar de um lado para o outro, pensei que seria mais uma das mudanças radicais que em breve tomaria a cabo.
De repente entra em casa com um pequeno ramo de violetas, com folhinhas verdes a envolver as flores que cuidadosamente amarrou com um fio e deixou num frasquinho no quarto deles. Quando voltou do quarto, sem eu lhe perguntar nada disse-me baixinho: " São para a minha namorada e hoje vou ter direito a um beijinho".
Vou chorar até o amanhar chegar, chorar todos os dias, chorar até que o tempo se esqueça que eu tenho que chorar.
Ilustração de Rébecca Dautremer
terça-feira, fevereiro 12, 2008
Lamb-Gabriel
Sim...é coisa de rapariga, mas lembro-me de um amor que nasceu assim.Foi tão bonito vê-las!Eu acreditei outra vez.anamartafortuna
segunda-feira, fevereiro 11, 2008
Algemas
Há projectos que nascem com o prazo de validade já expirado. Não deixam de alimentar os dias mais solitários, mas tornam-se meras companhias sem nunca serem verdadeiros companheiros de viagem.Trespassando as amarguras do que poderia ter sido e de tudo aquilo que já foi e nunca mais voltará a ser, há viagens que merecem ser feitas e um monte de projectos que têm, pelo menos, o direito de habitar o imaginário de noites perdidas.
Há dias falaram-me do medo. Do terror de ser deixado, de ficar para trás com sonhos por cumprir. Há o medo de perder e também um outro. Vencer, de facto. Assusta pensar que somos capazes de ultrapassar o aconchego inóspito das noites e viver. O medo refreia as emoções. O medo faz-me sentir saudades tuas todas as noites e ceifa-me, de forma abrupta e impiedosa, qualquer vontade.
O dia acordou solarengo, à laia de uma ligeira dor de cabeça. Haverá feridas que perduram, sonhos que o deixam de ser. Fica o sol e, em dias de calor, surge o desejo de ter o mundo. E há mundos que nunca se alcançam quando se permanece algemado a uma secretária.
(Autor da foto: Pedro Moreira @olhares)
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
A ponte
Atravessei a cidade do Porto na única ponte que me fecha o passado com tecidos transparentes…Sozinha. Já não havia imagens deste tempo, não poderia sequer ter existido alguma imagem dentro de mim para além dessas, dentro das minhas mãos, dentro dos meus olhos.
Guardo a exaustão no coração e no corpo transpiro lágrimas que me arrefecem as noites.
Arrasto-me por dentro…por dentro das imagens, por dentro da noite que não amanhece, por dentro das palavras que não tenho, por dentro das respostas que não oiço. Por dentro!
Por dentro morro com a cidade que vai ficando atrás de mim com as cortinas transparentes a assombrar o meu caminho.
Faz frio dentro das minhas mãos, no sangue que corre nas veias e vai chegando frio aos olhos.
Vou triste em frente do asfalto da única ponte que me fecha o passado com tecidos transparentes…triste. E ninguém me vem esperar com honestidade do outro lado. Ninguém me vem salvar da mentira, nem ninguém me tirará o peso das respostas que não oiço. Dói alguma coisa dentro de mim, não é um órgão, um membro, nem uma parte do corpo, dói-me em todo o lado onde se lembra. Toda a parte que se lembra dói-me como a solidão da morte.
Abro a cama…fecho os olhos e durante muito tempo antes de os fechar vai sempre chover por dentro dos meus olhos e eu não me vou querer lembrar porque. Apenas da imagem da cidade a ficar atrás de mim com os seus tecidos transparentes na única ponte que me fecha o passado com uma fronteira que não existe.