Desligo a luz, vejo a minha imagem no espelho desaparecer no meio da solidão escura que anoitece os meus dias. Vejo-me uma última vez antes de me olhar novamente para o mesmo espelho numa torturante sucessão de dias e noites que não distingo.
Atravessei a cidade do Porto na única ponte que me fecha o passado com tecidos transparentes…Sozinha. Já não havia imagens deste tempo, não poderia sequer ter existido alguma imagem dentro de mim para além dessas, dentro das minhas mãos, dentro dos meus olhos.
Guardo a exaustão no coração e no corpo transpiro lágrimas que me arrefecem as noites.
Arrasto-me por dentro…por dentro das imagens, por dentro da noite que não amanhece, por dentro das palavras que não tenho, por dentro das respostas que não oiço. Por dentro!
Por dentro morro com a cidade que vai ficando atrás de mim com as cortinas transparentes a assombrar o meu caminho.
Faz frio dentro das minhas mãos, no sangue que corre nas veias e vai chegando frio aos olhos.
Vou triste em frente do asfalto da única ponte que me fecha o passado com tecidos transparentes…triste. E ninguém me vem esperar com honestidade do outro lado. Ninguém me vem salvar da mentira, nem ninguém me tirará o peso das respostas que não oiço. Dói alguma coisa dentro de mim, não é um órgão, um membro, nem uma parte do corpo, dói-me em todo o lado onde se lembra. Toda a parte que se lembra dói-me como a solidão da morte.
Abro a cama…fecho os olhos e durante muito tempo antes de os fechar vai sempre chover por dentro dos meus olhos e eu não me vou querer lembrar porque. Apenas da imagem da cidade a ficar atrás de mim com os seus tecidos transparentes na única ponte que me fecha o passado com uma fronteira que não existe.
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
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