Por entre a tradição do azulejo português e da montra da decoração surge a defesa. Entre a nossa porta e a rua fica o aviso. É uma vida que se esconde por trás das grades, longe do mundo. Cuidadinho!Entre tu e eu há só distância, uma intimidade reservada que castra a própria vida. Os olhares que se escondem para lá das sebes deixam o aviso...Cuidado com o cão! Apesar do aviso, resiste a vontade de invadir...e partiu-se a vidraça.
Já passará mais de um mês desde o meu último 'post'. Faltam-me palavras ou vontade. Hoje, por força do sono ou pelo apelo psicadélico da música que vou ouvindo, empurrei-me para aqui.Da janela avista-se a rotunda da Boavista, o colosso do monumento aos Heróis da Guerra Peninsular. Vêem-se pessoas, passos lentes, um sol de avançado fim de tarde...folhas caídas. Castanhas, vermelhas, amarelecidas. Votadas ao abandono. Não há vento que as abrace, só a miséria de quem as cerca. O Outono é uma estação presa. Encarcerada entre o frio seco que recebe as manhãs e umas quaisqueres gotas de chuva perdidas.Olho as mãos. A pele seca e as pregas de pele bem expostas perante um toque rígido. Há dias em que imagino esta mesma pele num avanço temporal de 30 anos. Imagino só, porque o meu toque não o consigo sentir. É, no fundo, a magia das sensações. Sente-se quanto tem que ser. As projecções de desenvolvimento económico na UE para os próximos 20 anos pouco interessam à minha pele. Ela não se abre a estudos analíticos, entrega-se ao tempo. Um tempo que se joga no ritmo compassado de quem envolve a rotunda. As folhas desprendem-se do arvoredo. Pelo olhar, quantos dos que passeiam já não se desprenderam da própria pele?
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