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quinta-feira, novembro 29, 2007
quinta-feira, novembro 22, 2007
Deixarei os jardins a brilhar com os seus olhos
Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais.
Deixarei as constelações panorâmicas destes dias internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas.E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados.
É a cólera que me leva
aos precipícios de agosto, e a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas como o ar
palpitante fechado num espelho. É a estação dos planetas.
Cada dia é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses.
Bate em mim cada pancada do pedreiro
que talha no calcário a rosa congenital.
A carne,
asfixiam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,esta rede de jardins diante dos incêndios.
E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais.
Deixarei as constelações panorâmicas destes dias internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas.E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados.
É a cólera que me leva
aos precipícios de agosto, e a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas como o ar
palpitante fechado num espelho. É a estação dos planetas.
Cada dia é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses.
Bate em mim cada pancada do pedreiro
que talha no calcário a rosa congenital.
A carne,
asfixiam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,esta rede de jardins diante dos incêndios.
E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder
terça-feira, novembro 20, 2007
Em dias de chuva...apresenta-se a solidão. No filme ela também se exibe nos trejeitos de quem não quis perceber que se os pingos de chuva trémula não podem ser simples, os homens também não. Em homenagem à simplicidade fica a solidão.
In fear every day,m every evening,
He calls her aloud from above,
Carefully watched for a reason,
Painstaking devotion and love,
Surrendered to self preservation,
From others who care for themselves.
A blindness that touches perfection,
But hurts just like anything else.
Isolation, isolation, isolation.
Mother I tried please believe me,
I'm doing the best that I can.
I'm ashamed of the things I've been put through,
I'm ashamed of the person I am.
Isolation, isolation, isolation.
But if you could just see the beauty,
These things I could never describe,
These pleasures a wayward distraction,
This is my one lucky prize.
Isolation, isolation, isolation, isolation, isolation.
(Joy Division, Closer)
quinta-feira, novembro 15, 2007
O Choro
Chega um homem de longe, de um outro tempo, de um passado distante. Não diz uma única palavra, fica parado a olhar o vento, parado de cabeça erguida a olhar o vento...parado! Os outros olham-no curiosos, riem, encolhem os ombros; os outros que não ele, riem do que não conseguem ver. Ele...o homem do vento chora...chora muito, tanto que se torna invisível, tanto que não se torna ninguém.
Aos outros deixou-os sozinhos, também eles a chorar fazendo de conta que riam. Rindo a querer chorar. A morrer de tanto chorar. O homem partiu olhando o vento, olhando para sempre para o vento...partiu sozinho porque o amor dos outros sempre foi um choro fingindo ser riso.
Há choros assim, parados no tempo, como se a distância entre os dois nada mais fosse do que uma repetição, à tanto tempo esperada. Há quem não chore...Há quem chore por todos aqueles que não choraram, e há aqueles que morrem desde o último dia que choraram até ao de hoje, que se parece exactamente com o anterior...não há distância nenhuma entre eles, nem mesmo o tempo...nem mesmo as lágrimas que são as mesmas. Há quem não veja, porque se ri!Há quem não veja...
É por isto que vou deixar de acreditar.
E vou olhar o vento...chamem-me louca, mas vou sozinha ver o vento para um lugar que seja meu e o resto que se foda.
Sim porque o homem do vento também dizia palavrões...os outros claro não entendiam...e nem vale a pena explicar porque.
Aos outros deixou-os sozinhos, também eles a chorar fazendo de conta que riam. Rindo a querer chorar. A morrer de tanto chorar. O homem partiu olhando o vento, olhando para sempre para o vento...partiu sozinho porque o amor dos outros sempre foi um choro fingindo ser riso.
Há choros assim, parados no tempo, como se a distância entre os dois nada mais fosse do que uma repetição, à tanto tempo esperada. Há quem não chore...Há quem chore por todos aqueles que não choraram, e há aqueles que morrem desde o último dia que choraram até ao de hoje, que se parece exactamente com o anterior...não há distância nenhuma entre eles, nem mesmo o tempo...nem mesmo as lágrimas que são as mesmas. Há quem não veja, porque se ri!Há quem não veja...
É por isto que vou deixar de acreditar.
E vou olhar o vento...chamem-me louca, mas vou sozinha ver o vento para um lugar que seja meu e o resto que se foda.
Sim porque o homem do vento também dizia palavrões...os outros claro não entendiam...e nem vale a pena explicar porque.
quarta-feira, novembro 14, 2007
Pele seca
Já passará mais de um mês desde o meu último 'post'. Faltam-me palavras ou vontade. Hoje, por força do sono ou pelo apelo psicadélico da música que vou ouvindo, empurrei-me para aqui.
Da janela avista-se a rotunda da Boavista, o colosso do monumento aos Heróis da Guerra Peninsular. Vêem-se pessoas, passos lentes, um sol de avançado fim de tarde...folhas caídas. Castanhas, vermelhas, amarelecidas. Votadas ao abandono. Não há vento que as abrace, só a miséria de quem as cerca. O Outono é uma estação presa. Encarcerada entre o frio seco que recebe as manhãs e umas quaisqueres gotas de chuva perdidas.
Olho as mãos. A pele seca e as pregas de pele bem expostas perante um toque rígido. Há dias em que imagino esta mesma pele num avanço temporal de 30 anos. Imagino só, porque o meu toque não o consigo sentir. É, no fundo, a magia das sensações. Sente-se quanto tem que ser. As projecções de desenvolvimento económico na UE para os próximos 20 anos pouco interessam à minha pele. Ela não se abre a estudos analíticos, entrega-se ao tempo. Um tempo que se joga no ritmo compassado de quem envolve a rotunda. As folhas desprendem-se do arvoredo. Pelo olhar, quantos dos que passeiam já não se desprenderam da própria pele?
sábado, novembro 10, 2007
"Sometimes, though not often, he had dreams, and they were more painful than the dreams of other boys. For hours he could not be separated from these dreams, though he wailed piteously in them. They had to do, I think, with the riddle of his existence. [...] He had one of his dreams that night, and cried in his sleep for a long time, and Wendy held him tight."
J.M. Barrie, Peter Pan, XIII; XV.
J.M. Barrie, Peter Pan, XIII; XV.
sexta-feira, novembro 09, 2007
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