segunda-feira, agosto 14, 2006

Voo de pétalas

Há o mar, houve o vestido cravejado de borboletas, ficaram os tragos de vinho verde, as lágrimas pelas recordações, o abraço no fim da noite e as incompreensões de sempre. A valsa é um jogo a dois mas, em redor, continuam a gravitar os outros. Ondula-se, citam-se poetas, remexem-se lembranças mas a sensação de perda permanece. Hoje seguramente pelo passado, amanhã, muito provavelmente, por tudo aquilo que poderia ter sido.

As histórias não terminam sempre com um voo de pétalas por entre a perplexidade dos raios monásticos. Esta terminou, mas não é regra. É um ponto final, como todos, mas deixa, pelo menos, que a beleza se insinue para lá dos destroços.

Ao que tudo indica a farinha deixada à laia de desejo de abundância também não foi bem recebida. Incompreensões latentes que se unem à resistência de quem vive para sentir todos os dias. Não em dias de festa, não três vezes por semana ou bimestralmente. Sempre, intensamente, contraditoriamente. Hoje sinto menos do que em outros dias. É uma qualquer ditadura das dependências que castra o desejo de continuar. Mas, o homem tem destes subterfúgios que é continuar a arrastar-se mesmo quando já não consegue andar mais. É uma imagem terrível, de incapacidade, de abandono. Mas é também, e sobretudo, uma imagem de resistência. Sobrevive-se para lá da perda, da repressão ou das feridas. Sobrevive-se na esperança de voltar a viver.

1 comentário:

Mariana disse...

"A flor desse pacto, pela qual o olhar da criança brilha - é uma rosa quase vermelha. Não é bem salmão: é cor de sangue desmaiado, de sangue esquecido."
Urbano Tavares Rodrigues
Porque há pactos que existem sem serem confirmados, existem apenas pela honestidade pura de sentir a exaustão do amor.

dimensaooculta