segunda-feira, março 24, 2008

Nem sempre se deve desconfiar das pessoas graves, aquelas que caminham com o pescoço inclinado para baixo,os olhos delas a tocar pela primeira vez o caminho que os pés confirmarão depois.
Às vezes elas vêem o céu do outro lado do caminho que é o que lhes fica por baixo dos pés e por isso do outro lado do mundo.
O outro lado do mundo das pessoas graves parece portanto um sítio longe dos pés e mais longe ainda das mãos que também caem nos dias em que o ar pode ser mais pesado e os ossos se enchem de uma substância morna que não se sabe bem o que é. Na gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, com que nos são alheias quando as olhamos de frente rumo ao lado útil do caminho que escolhemos, essas pessoas arrastam uma nuvem prateada que a cada passo larga uma imagem daquilo que foram ou das pessoas que amaram.
Essas imagens podem desaparecer para sempre se forem pisadas quando caem no chão. A gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, destas pessoas, é, por isso, uma subtil forma de cuidado.

In “A Nuvem Prateada das Pessoas Graves”
Rui Costa

Imagem de Robert & Shana ParkeHarrison

2 comentários:

J. Vilas Maia disse...

As pessoas cujos os pés seguem pelo trilho aberto pelos olhos, de facto apenas estão a ser cuidadosas. Não porque queiram ser, mas porque obrigadas a ser. Nem sempre dá vontade largar os altos planos ou até as pequenas metáforas, em prol de um mundo habitado por quem não se deixa ser vulneravel a um abraço amigo sequer.

bjos divas

Oriana Tavares da Rocha disse...

beijokas giga.

volta sempre