quarta-feira, julho 11, 2007

Rascunho


O instantâneo assemelha-se ao rascunho. O molde eficaz, o imediatismo, a facilidade das soluções... Mas, tal como o rascunho, não passa de um projecto imediato na busca de melhores dias.

Hoje olho para mim e vejo um rascunho, um amontoado de projectos em lista de espera. As viagens que não fiz, todos aqueles que não amei, o que deveria ter sido nos dias que nunca aconteceram. As indefinições são perfeitas para quem tem certezas, trágicas para aqueles que esperam.

O sol podia ser uma boa desculpa para ser feliz, não fosse a ameaça dos dias de chuva. As estações sempre empacotaram bem o mundo. Há dias de praia, o refúgio da lareira, as folhas presas na relva, as flores que brotam da terra. Quando os dias de praia não chegam e as ameixoeiras dão fruto em Fevereiro há esperança. O desejo de escapar aos determinismos, a vontade de deixar para trás o que já não nos preenche sem que a solidão nos aprisione. Às vezes presa, outras livre demais para pensar no que já foi, a vida surge. Há dias em que apetece abraçá-la, outros em que só dois braços fariam a diferença.

Vou para casa com as mesmas certezas com que de lá sai esta manhã. Que a vida está cheia de paragens até ao destino final.

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