Quando era criança a primavera chegava assim...no cheiro!
Sentia o cheiro das flores logo pela manhã, a pele parecia mentol e o sol demorava-se pelas tardes. Escutavamos o cantar dos grilos a entrar pela janela do quarto, o vento morno a cobrir as brincadeiras e o céu azul a estender-se pelo horizonte, quando nos deitávamos com as costas na relva.
As flores eram as primeiras a ser notadas...muitas...até se perder de vista. Depois chegavam as joaninhas, com as suas capas vermelhas de bolinhas negras a percorrer os dedos para depois fugir, voando sem destino.
Realizavamos autênticas maratonas de bicicleta até ao rio, esquecendo sempre que o caminho de volta tinha que ser feito.
A mãe deixava-me andar descalça na relva, na terra, nas pedras quentes da eira...molhavamos os pés quando ela regava o jardim e corríamos atrás das borboletas que nasciam de um dia para o outro, tal como a Primavera.
Na sexta-feira ela chegou assim...não havia a eira, a mãe, os pés molhados, as costas deitadas na relva, mas ela chegou assim! Eu não sou criança mas a Primavera chegou.
Acordei para ir trabalhar, ouvi uma chefe recém licenciada na sua total ignorância, pequenina em sensatez proferir aguçadamente palavras de descontentamento, vi um homem chorar e uma colega a manifestar os seus dotes de comunicação. Vi um mundo que não cabia na minha infância e senti um coração pequenino na primavera que chegava.
Sentia o cheiro das flores logo pela manhã, a pele parecia mentol e o sol demorava-se pelas tardes. Escutavamos o cantar dos grilos a entrar pela janela do quarto, o vento morno a cobrir as brincadeiras e o céu azul a estender-se pelo horizonte, quando nos deitávamos com as costas na relva.
As flores eram as primeiras a ser notadas...muitas...até se perder de vista. Depois chegavam as joaninhas, com as suas capas vermelhas de bolinhas negras a percorrer os dedos para depois fugir, voando sem destino.
Realizavamos autênticas maratonas de bicicleta até ao rio, esquecendo sempre que o caminho de volta tinha que ser feito.
A mãe deixava-me andar descalça na relva, na terra, nas pedras quentes da eira...molhavamos os pés quando ela regava o jardim e corríamos atrás das borboletas que nasciam de um dia para o outro, tal como a Primavera.
Na sexta-feira ela chegou assim...não havia a eira, a mãe, os pés molhados, as costas deitadas na relva, mas ela chegou assim! Eu não sou criança mas a Primavera chegou.
Acordei para ir trabalhar, ouvi uma chefe recém licenciada na sua total ignorância, pequenina em sensatez proferir aguçadamente palavras de descontentamento, vi um homem chorar e uma colega a manifestar os seus dotes de comunicação. Vi um mundo que não cabia na minha infância e senti um coração pequenino na primavera que chegava.
Mas...
Veio a tarde...o rio outra vez...amava na Primavera. Talvez a primeira vez!
Veio o sábado e a praia...a alegria de partilhar a Primavera e de molhar os pés na areia e fazer palhaçadas.
Veio o Domingo...a mãe...o pai...as mãos da mãe...o amor da minha mãe...o braço forte do meu pai a segurar-me as quedas (já não tão forte agora)...as flores sem fim, a relva nas costas e o céu azul como única imagem.
Amanhã, independentemente de tudo, o "sol estará em cada sílaba"...E EU VOU AMAR...simplesmente porque mereço! Porque não sei como virá o futuro e o presente é o único tempo que tenho para viver e para amar, sem ter que me sentir culpada por isso!
Ana Marta Fortuna
Fotografia de Petrova
Veio a tarde...o rio outra vez...amava na Primavera. Talvez a primeira vez!
Veio o sábado e a praia...a alegria de partilhar a Primavera e de molhar os pés na areia e fazer palhaçadas.
Veio o Domingo...a mãe...o pai...as mãos da mãe...o amor da minha mãe...o braço forte do meu pai a segurar-me as quedas (já não tão forte agora)...as flores sem fim, a relva nas costas e o céu azul como única imagem.
Amanhã, independentemente de tudo, o "sol estará em cada sílaba"...E EU VOU AMAR...simplesmente porque mereço! Porque não sei como virá o futuro e o presente é o único tempo que tenho para viver e para amar, sem ter que me sentir culpada por isso!
Ana Marta Fortuna
Fotografia de Petrova
4 comentários:
A Primavera tem esta beleza de nos despertar os sentidos e aquecer a pele. Para lá das desistências e das desilusões do dia-a-dia, há sol, flores e haverá sempre a espuma do mar a bailar por entre os dedos dos pés. A beleza existe e é, por essa mesma razão, que não podemos permitir que o negro da rotina, dos dias passados sentados e sem chama nos mate. Pelo menos que seja uma morte clamorosa e não o lento passar dos dias.
Não te deixes arrastar pelas ideias feitas porque isso é desistir um pouco de ti todos os dias.
Beijos*
No dia que se transforma, na vida que se acumula, nos anos que não voltam atrás há um sem fim de regras com que trabalhamos, que são necessárias para a nossa sobrevivência...Quando este dia acaba...o dia das regras, das máscaras, do cuidado é bom encontrar amigos que não tenham ideias feitas sobre nós.
É um mundo de merda...mas só conhecendo os seus podres é possível combater.
Quem me sabe pessoa (ou pelo menos quem parece que me sabe pessoa) sabe o quanto eu luto todos os dias...mas as minhas armas são parcas e muitos são os gigantes que me rodeiam...no fim do dia, sou só uma miuda, bem pequenina à espera de um conforto, alguém que entenda que sou uma lutadora num mundo de ideias feitas.
Ana Marta Fortuna
É por seres uma lutadora que não compreendo a tua resignação e a tua mágoa. Ninguém te critica pelo simples facto de questionar. Fica então com as tuas certezas.
???
resignação??queres que faça o quê?que desate aos tiros porque não me convidam para o cargo?Vamos falar a sério de resignação???!!!
Mágoa?Só se for por não estares presente numa altura tão importante para mim...
Criticas por questionar??!!...certezas???!!
Escapa-me muita coisa!Quando quiseres falar avisa-me, que isto não é lugar.
Obrigada!
beijos.
ana marta fortuna
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