segunda-feira, junho 26, 2006

John... just John

Com a mesma simplicidade com que alguém se apelida de John...just John, as noites recobrem-se de pequenas descobertas, palavras e momentos que bailam e que desenham momentos especiais e situações inesperadas.

Quando se entra no restaurante turco à procura de respostas e só se encontram vestígios de inglês falado, nunca se deveria pedir kebab e sentar-se à mesa a apreciar o tipo turco.
O John é turco mas nasceu na Holanda, em Eindhoven, "a cidade da Phillips", das televisões e dvd's. Recordações de uma vida que ficou para trás, agora que o John vive as 24 horas do dia na Rua de Ceuta. Em pouco mais de um mês, as impressões do John resumem-se ao português rasurado, em tom de desfile poético: "meninas portuguesas bonitas". Pela conversa e por entre a sandes de kebab ondularam equívocos. Há sempre situações que me fazem pensar que o grave problema da humanidade não é a proliferação nuclear ou a exploração dos pobres pelos mais ricos. Chega da eterna dinâmica da luta de classes. Na realidade, o que faz o sangue jorrar são as palavras, ou seja a falta delas ou a sua total incompreensão. Mais do que o toque, as palavras, os registos vagos de uma história, são gestos de intimidade. Os equívocos da comunicação criaram o equívoco da guerra. Pior é a diversidade linguística ter sido substituída, para efeitos práticos, pela universalidade da pólvora.
No turco, e apesar dos equívocos que apimentaram a conversa muito para além do chili, as palavras criaram uma noite diferente. As meninas subiram ao piso de cima e trocaram fumo com o John. Ele, mais honesto e mais dado à partilha, falou da vida de quem cresceu depressa demais. Pelos círculos de fumo, pelos tragos de wiskey turco e pela música que o John nos apresentou ficaram momentos de partilha. Devolvemos equívocos, risos finos.

Assim, por entre a noite escura, entregues à pacatez de uma sala com recortes arabaicos é mais fácil partilhar momentos. A língua é estranha e o John também...Perfeito para quem se refugia da intimidade.


P.S. O John está no Porto há um mês e duas semanas e gosta de "meninas portuguesas", o rapaz também é arranjadinho e não há razão para não passar no turco da Rua de Ceuta e, sobretudo, não há motivos para não partilhar três horas com o John...just John.

2 comentários:

Anónimo disse...

Melhor que ninguém, a Mariana descreve as suas aventuras inesperadas de forma deliciosa, claro sempre com uma pimentinha chamada dimensão oculta para temperar tudo. Deu vontade de estar lá, para partilhar esse momento.
Tenho saudades vossas!

Beijo grandess!

Carlos Romão disse...

Mariana, partiu-se a vidraça?
Cuidado com o cão ;)