sexta-feira, abril 07, 2006

Retratos de um dia que nunca foi

Era uma manhã húmida, nevoeiro impenetrável e o sufoco de um trânsito em ponto morto. Lindo. Atravessar a ponte, sentir o frio entre os dedos e o nevoeiro etéreo em volta. Já não se fazem dias assim. Alcatrão sujo, humidade insuportável e uma invisibilidade perene. O rio estava, ironicamente, seco, sem chama e sem rumo. Como tu, lá do outro lado.

Estavas longe e impassível.Como sempre, aliás. Surpreendentemente, o teu toque aqueceu-me e iluminou aquele momento. Os reencontros vivem sempre desta beleza. É o toque fortuito, são as palavras que ficam por dizer...foi o meu coração que deixou de bater.

Foste. Eu permaneci e o frio regressou, a luminosidade deu lugar à bruma. De repente voltei a ser o frio que me rodeia, a voz maquinal que sempre fui.
O rio seco e as margens nuas são agora o meu refúgio. Sentada à beira-rio, as angústias seguem o rumo da corrente. Voltam para o mar alto, voltam para a turbulência das ondas.

Eu, como sempre, volto costas aos desígnios da corrente e subo rumo ao silêncio que me consome. Quem sabe se, lá acima, não estarás tu para me voltar a preencher com o teu olhar.

Até sempre!

1 comentário:

Luísa disse...

Mariana, se voltas a escrever "até sempre" telefono ao meu ex-psiquiatra e peço que alguém te vá buscar a casa de emergência