segunda-feira, setembro 24, 2007
Amor é...
As paixões têm destas coisas...apanham-nos de surpresa. Como foi o caso destes anjinhos perdidos num 'stand' entregue a crucifixos.
quarta-feira, setembro 05, 2007
A morte é um lugar estranho
La Pau, Barcelona,
06:48, 14/08/2007
Mata-me! Seja qual for a língua, a morte assusta turistas e, fundamentalmente, suicidas.
Numa noite perdida em Barcelona dei de caras com o desespero de um filho que perde a mãe, encontrei sotaques familiares com acento do sul, falei espanhol, troquei o inglês pelo português e apanhei o autocarro de serviço especial até aqui.
Mais do que as cidades, as pessoas que as compõem são estranhas . De um lado um grupo de suecas de mini-saia e Estrela Damm na mão, ao meu lado um paquistanês. Urrava mais do que chorava. Saca-rolhas apontado ao coração. Algures na avenida central, presa à confusão de início de noite na Praça Catalunha e aos semáforos intermitentes, deveria existir mais que desolação. Nada.
Quis arrancar-lhe o saca-rolhas, como quem lava a própria consciência. Ele correu atrás de mim. Abraçou-me e levou-o. Fiquei só no autocarro. Sem garantias, sem a certeza do caminho que seguia e sem ideia do que seria do desespero daquele homem, cujo nome se perdeu entre a letargia de um espanhol mal soletrado. Para um turista tudo são recordações, para um homem longe da mãe que morre lentamente duvido que tudo se resuma a meras alucinações. Pelo caminho até à Gràcia pensei no saca-rolhas e nos subterfúgios de um homem morto há muito pela distância dos afectos e pelo olhar triste.
Passaram outros olhares, vozes familiares e mais uma cerveja com sotaque do Magrebe.
Reencontrei o 'punk' italiano do dia anterior numa roda de gente. Esqueci o paquistanês. Ali o desejo era outro...mais vivo e potenciado pela cerveja e pela proximidade dos corpos.
Entre o crepe verde do posto de conveniência e o 'croissant' em La Pau, Barcelona foge. Ficaram os sorrisos, as cervejas partilhadas e as palavras daqueles que me cercavam. As impressões persistem, o desejo de partir nem sempre. Mas, presa a um autocarro em auto-gestão pela cidade, reacende-se a vontade de partir rumo a um qualquer avião com destino a qualquer outra coisa que me faça voltar a querer. Haverá outros desejos que nunca passarão de palavras vãs, presas ao vento que revira os fins de tarde catalães.
Ele ficou com o saca-rolhas e com a morte como desejo. Não pude dilacerar-lhe o coração por ser portuguesa, haveria a necessidade de um espanhol. Na hora da morte o mundo é sempre mais pequeno.
P.S.: Para último dia assinala-se a surpresa de encontrar mil-folhas na única confeitaria aberta àquela hora da manhã na Avenida Guipúscoa.
06:48, 14/08/2007
Mata-me! Seja qual for a língua, a morte assusta turistas e, fundamentalmente, suicidas.
Numa noite perdida em Barcelona dei de caras com o desespero de um filho que perde a mãe, encontrei sotaques familiares com acento do sul, falei espanhol, troquei o inglês pelo português e apanhei o autocarro de serviço especial até aqui.
Mais do que as cidades, as pessoas que as compõem são estranhas . De um lado um grupo de suecas de mini-saia e Estrela Damm na mão, ao meu lado um paquistanês. Urrava mais do que chorava. Saca-rolhas apontado ao coração. Algures na avenida central, presa à confusão de início de noite na Praça Catalunha e aos semáforos intermitentes, deveria existir mais que desolação. Nada.
Quis arrancar-lhe o saca-rolhas, como quem lava a própria consciência. Ele correu atrás de mim. Abraçou-me e levou-o. Fiquei só no autocarro. Sem garantias, sem a certeza do caminho que seguia e sem ideia do que seria do desespero daquele homem, cujo nome se perdeu entre a letargia de um espanhol mal soletrado. Para um turista tudo são recordações, para um homem longe da mãe que morre lentamente duvido que tudo se resuma a meras alucinações. Pelo caminho até à Gràcia pensei no saca-rolhas e nos subterfúgios de um homem morto há muito pela distância dos afectos e pelo olhar triste.
Passaram outros olhares, vozes familiares e mais uma cerveja com sotaque do Magrebe.
Reencontrei o 'punk' italiano do dia anterior numa roda de gente. Esqueci o paquistanês. Ali o desejo era outro...mais vivo e potenciado pela cerveja e pela proximidade dos corpos.
Entre o crepe verde do posto de conveniência e o 'croissant' em La Pau, Barcelona foge. Ficaram os sorrisos, as cervejas partilhadas e as palavras daqueles que me cercavam. As impressões persistem, o desejo de partir nem sempre. Mas, presa a um autocarro em auto-gestão pela cidade, reacende-se a vontade de partir rumo a um qualquer avião com destino a qualquer outra coisa que me faça voltar a querer. Haverá outros desejos que nunca passarão de palavras vãs, presas ao vento que revira os fins de tarde catalães.
Ele ficou com o saca-rolhas e com a morte como desejo. Não pude dilacerar-lhe o coração por ser portuguesa, haveria a necessidade de um espanhol. Na hora da morte o mundo é sempre mais pequeno.
P.S.: Para último dia assinala-se a surpresa de encontrar mil-folhas na única confeitaria aberta àquela hora da manhã na Avenida Guipúscoa.
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